O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron voltou ao governo do Reino Unido, desta vez como ministro do Exterior. Ele substitui James Cleverly, que por sua vez tomou o lugar de Suella Braverman, que foi demitida da pasta do Interior, em meio a uma remodelação anunciada nesta segunda-feira (13/11) pelo premiê Rishi Sunak.
No Reino Unido, é raro que um ex-premiê sem cargo legislativo ocupe um cargo no primeiro escalão.
Braverman causou polêmica na semana passada ao publicar um artigo no jornal The Times descrevendo "turbas pró-palestinos" como "uma reminiscência perturbadora" de cenas durante o auge do conflito na Irlanda do Norte. Ela declarou que a polícia era condescendente com manifestantes pró-palestinos.
Seus comentários foram criticados por terem aumentado a tensão antes de uma marcha pró-Palestina em Londres no sábado passado, Dia da Memória do Reino Unido, que também foi cenário de cenas violentas envolvendo manifestantes de extrema direita.
Também em meio à remodelação do seu governo, Sunak nomeou ainda Victoria Atkins para a pasta da Saúde e colocou o antecessor dela, Steve Barclay, no Meio Ambiente, substituindo Therese Coffey.
Crítica a Sunak
Cameron voltou às manchetes recentemente após criticar publicamente a decisão do premiê britânico, Rishi Sunak, de cancelar o trecho Birmingham-Manchester de um projeto ferroviário de alta velocidade conhecido como HS2.
"Embora eu possa ter discordado de algumas decisões individuais, está claro para mim que Rishi Sunak é um primeiro-ministro forte e capaz, que está demonstrando uma liderança exemplar num momento difícil", escreveu Cameron na plataforma X, antigo Twitter, confirmando sua nomeação.
"Enfrentamos um conjunto assustador de desafios internacionais, incluindo a guerra na Ucrânia e a crise no Oriente Médio. Neste momento de profundas mudanças globais, raramente foi tão importante para este país apoiar os nossos aliados, fortalecer as nossas parcerias e garantir que nossa voz seja ouvida."
Envolvimento em escândalo
Mais associado ao centro do Partido Conservador, Cameron foi líder dos conservadores de 2005 a 2016 e primeiro-ministro de 2010 a 2016, tendo se tornado a pessoa mais jovem a ocupar o cargo desde 1812.
Ele renunciou depois de convocar e perder o referendo de 2016 sobre a adesão do Reino Unido à União Europeia, inaugurando um período tumultuado na política britânica no qual o Partido Conservador se inclinou ainda mais para a direita populista.
Depois de deixar o governo britânico em 2016, Cameron foi envolvido no "escândalo Greensill" quando foi noticiado pelo Financial Times e pelo The Sunday Times que ele havia feito lobby junto a Sunak, então ministro das Finanças, para permitir acesso em 2021 ao fundos estatais de auxílio relacionados à pandemia para a empresa de serviços Greensill Capital, em dificuldades financeiras.
Três investigações distintas concluíram que Cameron não violou nenhuma regra de lobby nem agiu ilegalmente.
Fora do Reino Unido, Cameron também tem sido associado aos interesses chineses no Indo-Pacífico, defendendo o polêmico projeto multibilionário da Cidade Portuária de Colombo, no Sri Lanka, parte da Iniciativa Cinturão e Rota (ou Nova Rota da Seda) do presidente chinês, Xi Jinping, conforme noticiado mês passado pelo site Politico.
Quem é Suella Braverman?
Uma figura chave na ala direita do Partido Conservador no poder no Reino Unido, Braverman era uma defensora empenhada do Brexit que também ganhou as manchetes por seu plano de deportar para Ruanda requerentes de refúgio – proposta que foi considerada ilegal por vários tribunais.
"Foi o maior privilégio da minha vida servir como ministra do Interior", declarou Braverman, segundo a emissora BBC. "Terei mais a dizer no devido tempo." Sunak estava sob crescente pressão para afastá-la.
Braverman renunciou ao cargo de ministra do Interior em setembro de 2022, durante o curto mandato de Liz Truss, após enviar documentos oficiais a partir de seu endereço de e-mail privado. Sunak a reintegrou seis dias depois.
Considerada uma das favoritas para líder partidária entre a direita do Partido Conservador, ela ganhou as manchetes com comentários radicais sobre imigrantes e uma descrição recente dos sem-teto como uma "opção de estilo de vida".
md/as (AFP, DPA, AP)