Uma nova empresa alemã de carne in vitro deu os primeiros passos para levar às prateleiras dos supermercados salsichas cultivadas em laboratório a partir de células animais.
Em meados de setembro, The Cultivated B iniciou as primeiras negociações com a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar para aprovação para venda do seu "produto híbrido de salsicha composto por ingredientes veganos, incluindo quantidades significativas de carne cultivada".
Embora provavelmente ainda faltem meses ou anos para que esse passo seja dado, fora da UE ele já é realidade. Os reguladores dos Estados Unidos deram luz verde em junho à venda de frango cultivado em laboratório, depois de Singapura ter se tornado em 2020 o primeiro país a aprovar a venda de carne cultivada com células.
"Carne de Frankenstein"
A notícia desse avanço na tecnologia alimentar deixa alguns desconfiados com o que chamam de "carne de Frankenstein", que pode ter uma aparência diferente e ser produzida mais rapidamente que a carne tradicional.
Carne de laboratório é feita de células cancerosas? Essa é uma grande preocupação para muitos que são céticos em relação à carne artificial, pois há quem esteja convencido de que ela provém de células tumorais de rápido crescimento.
Em resposta a um vídeo recente da DW, um comentarista afirmou que "a carne de laboratório é literalmente cultivada a partir de células cancerosas".
Em fevereiro de 2023, um artigo publicado em colaboração com a Bloomberg Businessweek afirmava que "as células normais da carne não se dividem eternamente". O texto ressaltava que as principais startups de carne cultivada estão "usando silenciosamente o que são chamadas de células imortalizadas [...],elementos básicos da pesquisa médica que são, tecnicamente falando, pré-cancerosas e podem ser, em alguns casos, totalmente cancerosas".
Mas isso não é inteiramente verdade: os cientistas utilizam células para produzir carne, mas trabalham com células-tronco de um animal vivo ou de um óvulo fertilizado. Os cientistas selecionam as melhores células e as mergulham num caldo rico em nutrientes. Depois, essas células são cultivadas em grandes quantidades em tanques de aço conhecidos como biorreatores ou cultivadores, um processo descrito pela organização sem fins lucrativos americana Good Food Institute.
Desmentidos da FDA e da FAO
Quando está pronta para ser colhida, a carne pode adquirir textura e formato familiares e ser embalada para venda. Todo o processo leva de duas a oito semanas, dependendo do tipo de carne. E essas células definitivamente não são cancerosas, de acordo com Elliot Swartz, cientista chefe do Good Food Institute.
A Food and Drug Administration (FDA), agência governamental responsável pela regulamentação de alimentos e medicamentos nos EUA, também refutou a alegação de que sejam usadas células cancerosas para produzir carne cultivada em laboratório, assegurando que essas células sequer têm capacidade para formar tumores.
E sobre as alegações de que a carne cultivada possa causar câncer em quem a consomem, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) observou que "os conhecimentos científicos atuais não apoiam a plausibilidade do contágio do câncer humano através da introdução de células", inclusive de outros seres humanos.
Por seu lado, a FDA afirma que, em qualquer caso, quaisquer células animais cancerosas ou pré-cancerosas – que podem até estar presentes em cortes tradicionais de carne – seriam destruídas pelo cozimento e pela digestão humana.
Autor: Martin Kuebler