O ministro da Economia e vice-chanceler federal da Alemanha, Robert Habeck, do Partido Verde, foi alvo de um protesto de produtores rurais na noite desta quinta-feira (04/01) enquanto retornava das férias ao lado de sua esposa.
Um grupo de 250 a 300 agricultores ameaçou agir com violência para impedir que os passageiros da balsa em que Habeck estava pudessem desembarcar na cidade de Schlüttsiel, no litoral norte da Alemanha, em um impasse que durou cerca de duas horas.
O ministro acabou sendo forçado a retornar à ilha de Hallig Hooge, e de lá embarcou em outra balsa rumo ao continente, segundo informou a polícia local na manhã desta sexta-feira. Várias lideranças políticas do país expressaram apoio ao líder dos verdes após o incidente.
"A situação foi acalorada, o que fez com que um diálogo entre o Sr. Habeck e os líderes dos manifestantes não fosse possível, motivo pelo qual a balsa teve de partir novamente", disseram os policiais. "Entre 25 e 30 pessoas tentaram forçar a entrada na balsa, mas foram contidas pelos seguranças no local, em parte, com o uso de sprays de pimenta."
Habeck conseguiu retornar no meio da noite "sem nenhum incidente", afirmou a polícia da cidade de Flensburg.
Ao comentar o caso nesta sexta-feira, o ministro lamentou que não houve possibilidade de diálogo com os agricultores. "O protesto na Alemanha é um bem valioso. A coerção e violência destroem esse bem", afirmou, em nota.
Fim dos subsídios ao diesel gerou revolta
No mês passado, os agricultores se revoltaram ao serem forçados a cobrir parte significativa dos prejuízos causados pela crise em torno do orçamento federal que alterou o planejamento dos gastos do governo.
Uma das decisões tomadas pelo governo para tentar salvaguardar ou realocar cerca de 60 bilhões de euros para os próximos anos foi cortar o subsídio ao diesel adquirido para fins agrícolas. A medida desencadeou uma onda de protestos em todo o país.
Habeck é um dos alvos dos manifestantes por ter sido um dos líderes das três legendas que integram a coalizão de governo – os verdes, o Partido Social-Democrata (SPD) do chanceler Olaf Scholz, e o Partido Liberal Democrático (FDP) – e que negociaram a saída para crise orçamentária, além de que ele acumula o cargo de ministro da Proteção Climática, responsável também pelas políticas de energia do país.
O governo alemão acabou cedendo parcialmente aos agricultores, ao atrasar o fim dos subsídios para 2026, o que não serviu para aplacar a insatisfação do setor. A poderosa Associação dos Fazendeiros Alemães (DBV) convocou uma paralisação para a próxima segunda-feira.
As táticas usadas pelos agricultores nos protestos, que incluem formar longas filas de tratores em estradas e ruas para bloquear o trânsito, em alguns casos despejando esterco em vias públicas, costumam ser bastante criticadas.
Essas ações são muitas vezes comparadas a táticas radicais adotadas por entidades ambientalistas, como o grupo Die Letze Generation ("A Última Geração"), que são acusadas de prejudicar suas próprias causas ao empregar esse tipo de estratégia.
"Embrutecimento dos costumes políticos"
Os protestos contra Habeck no norte do país no momento em que ele retornava de uma viagem particular geraram críticas semelhantes.
O líder do DBV, Joachim Rukwied, tentou distanciar "nos termos mais claros possíveis" a sua organização do protesto contra Habeck. Em nota divulgada nesta sexta-feira, ele disse que bloqueios desse tipo são inaceitáveis.
"Somos uma associação que defende tradições democráticas. Ataques pessoais, insultos, ameaças, coerção ou violência simplesmente não podem ocorrer", afirmou.
Políticos de várias vertentes também condenaram os manifestantes no norte do país.
O porta-voz do governo Steffen Hebestreit afirmou em postagem nas redes sociais que o bloqueio foi "vergonhoso e viola as regras da cooperação democrática". "Com todo respeito à cultura viva dos protestos, ninguém deve deixar de se preocupar com o embrutecimento dos costumes políticos."
O mesmo texto foi postado no perfil do chanceler Scholz na rede social X, mas acabou sendo apagado. O motivo para isso não está claro.
A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, aliada de Habeck no Partido Verde, disse em nota que "a democracia prospera dos debates difíceis", mas advertiu que "quando as palavras são substituídas pelo assédio moral e os argumentos pela violência, os limites da democracia são ultrapassados".
Prejuízos à causa dos agricultores
O ministro da Justiça, Marco Buschmann, do FDP, escreveu que "a violência contra pessoas ou objetos não tem lugar no debate político. Isso gera descrédito à causa de muitos fazendeiros que protestam pacificamente".
Mesmo políticos da oposição saíram em defesa de Habeck. O governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália, Hendrik Wüst, da União Democrata Cristã (CDU), afirmou que o protesto em Schlüttsiel "prejudica a causa justa dos fazendeiros" e pediu que haja consequências.
Por outro lado, a líder do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, buscou uma narrativa diferente para o ocorrido, afirmando que "Habeck não é mais levado a sério pelos cidadãos". "Em vez de tentar o diálogo, ele preferiu fugir em uma balsa", escreveu nas redes sociais.
rc/ek (AFP, DPA, EPD, Reuters)