Chefe da ONU pede veto a anúncios de combustíveis fósseis

António Guterres criticou petrolíferas e afins por obterem "lucros recordes" enquanto "os mais vulneráveis são deixados desamparados" pela crise climática.

Por Deutsche Welle

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, criticou duramente nesta quarta-feira (05/06) a indústria de combustíveis fósseis por obter "lucros recordes" enquanto "os mais vulneráveis são deixados desamparados" pela crise climática.

"Os padrinhos do caos climático, a indústria de combustíveis fósseis, estão obtendo lucros recordes", afirmou. "É uma vergonha que os mais vulneráveis fiquem desamparados, lutando desesperadamente para lidar com uma crise climática que não causaram", disse Guterres em uma coletiva coletiva no Museu Americano de História Natural, em Nova York.

Guterres pediu a proibição da publicidade de petróleo, gás e carvão, as principais causas do aquecimento global. "Peço a todos os países que proíbam a publicidade das empresas de combustíveis fósseis", disse ele, comparando-a à proibição de outros produtos prejudiciais à saúde humana, como o tabaco.

"Precisamos de uma rampa de saída da rodovia que leva ao inferno climático", disse ele, já que os signatários do Acordo de Paris devem apresentar novas metas de emissões até o início de 2025.

Guterres também repetiu os pedidos de taxação dos lucros do setor de combustíveis fósseis para financiar a luta contra o aquecimento global, apontando especificamente para “taxas de solidariedade em setores como transporte marítimo, aviação e extração de combustíveis fósseis”.

"Não somos dinossauros, somo meteorito"

"Na questão climática, não somos os dinossauros. Nós somos o meteorito. Não estamos apenas em perigo. Nós somos o perigo", disse António Guterres durante um longo discurso em Nova York para o Dia Mundial do Meio Ambiente. Mas também somos a solução", ressaltou.

Suas palavras acompanham a divulgação coordenada dos últimos alertas científicos: maio de 2024 foi o maio mais quente já registrado globalmente (em terra e no mar), o 12º mês consecutivo de quebra de recorde, de acordo com o observatório europeu Copernicus.

Ele pediu às potências econômicas mundiais que demonstrem maior compromisso com a luta contra as mudanças climáticas e deixem de brincar de "roleta russa com o planeta".

"Roleta russa com o planeta"

"Estamos jogando roleta russa com o nosso planeta. Todo (o futuro) depende das decisões que os atuais líderes tomarem ou deixarem de tomar, especialmente nos próximos 18 meses. Este é o momento da verdade", disse.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) apresentou suas previsões climáticas para os próximos cinco anos, informando nesta quarta-feira que há uma probabilidade de 80% de que a temperatura média anual ultrapasse o limite de 1,5 grau Celsius em pelo menos um dos próximos cinco anos. Em 2015, a probabilidade era próxima de zero.

Além disso, há "outra chance de 50% de que a temperatura média nos próximos cinco anos seja 1,5 grau mais alta do que na era pré-industrial".

Milhares de cientistas e especialistas concordaram, no Acordo de Paris (2015), que limitar o aumento médio anual da temperatura global a não mais que 1,5 grau Celsius ajudaria a evitar as piores consequências ambientais e a manter um clima habitável.

O secretário-geral da ONU continuou atacando o setor de combustíveis fósseis porque, segundo ele, "eles se banqueteiam com trilhões em subsídios financiados pelo contribuinte".

"A mudança climática é a mãe de todos os impostos ocultos pagos por cidadãos e países e comunidades vulneráveis”, acrescentou o político português.

Embora não tenha citado nenhuma empresa específica, o secretário-geral da ONU enviou uma mensagem direta aos executivos dessas empresas para que deem o exemplo e "não desperdicem a oportunidade de liderar a transição energética".

"Países do G20 precisam ir além"

Guterres enfatizou o trabalho a ser feito pelo "1% mais ricos que são responsáveis pela mesma quantidade de emissões de carbono que dois terços da humanidade", uma proporção que inclui cerca de 5 bilhões de pessoas.

Ele disse que os países do Grupo dos Vinte (G20) "têm uma responsabilidade" e "precisam ir além" – já que produzem 80% das emissões globais – comprometendo-se a realocar os subsídios dos combustíveis fósseis para os renováveis e a eliminar o carvão até 2030.

"Não podemos aceitar um futuro em que os ricos fiquem abrigados em bolhas com ar-condicionado, enquanto o resto da humanidade é castigado por um clima letal em terras inabitáveis", afirmou.

Mas, para isso, é necessário "manter o limite de 1,5 grau" e reduzir as emissões globais em 9% ao ano até 2030, de acordo com o secretário-geral da ONU.

"O mundo está emitindo gases a um ritmo tal que, até 2030, um aumento muito maior da temperatura estaria praticamente garantido", acrescentou.

Nesse cenário, o mundo sofreria "consequências devastadoras”, que iriam desde "aumentos catastróficos” no nível do mar até a destruição de recifes de coral ou a desintegração dos meios de subsistência de 300 milhões de pessoas, citou Guterres entre alguns exemplos.

"Cidades como Nova Déli, Bamako e Cidade do México estão queimando. O fracasso em manter o limite de 1,5 grau também significaria a interrupção das cadeias de suprimentos, aumentando os preços e a insegurança alimentar", alertou.

md (AFP, EFE)

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