Autoridades russas informaram na noite desta quarta-feira (23/08) que o chefe do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, e seu vice, Dmitri Utkin, estavam a bordo de um avião particular que caiu na Rússia, matando todos os dez ocupantes.
Oito corpos foram encontrados no local do acidente após as primeiras buscas, informou a agência de notícias estatal russa RIA Novosti. Segundo a imprensa russa, os corpos estariam totalmente carbonizados, motivo pelo qual seria necessário exame de DNA para confirmar as identidades das vítimas.
Em um vídeo publicado pelo portal Gazeta.ru - mas ainda não verificado por meios independentes - é possível ver a aeronave caindo e chocando-se contra o chão, seguido de uma forte explosão.
O canal do Telegram "Grey Zone" , usado pelo Grupo Wagner e no passado pelo próprio Prigozhin para divulgar notícias, confirmou a morte, chamando o fundador do grupo de "verdadeiro patriota" da Rússia morto pelas mãos de "traidores".
Segundo a agência de notícias Tass, a aeronave Embraer Legacy voava de Moscou para São Petersburgo – cidade natal de Prigozhin e sede do Grupo Wagner.
A Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia (Rosaviatsiya) iniciou uma investigação sobre a queda do avião, ocorrida na região de Tver, perto da cidade de Kuschenkino, cerca de 100 quilômetros ao norte da capital russa. De acordo com as autoridades de emergência, o avião transportava três pilotos e sete passageiros.
Ucrânia fala em possível "assassinato"
Diferentes versões do ocorrido são discutidas nas redes sociais russas. Canais próximos do grupo Wagner especulam que o avião pode ter sido abatido pela defesa antiaérea russa ou por um drone ou que pode tratar-se de um atentado.
Numa primeira reação, o governo da Ucrânia sugeriu que o líder do Grupo Wagner pode ter sido assassinado e que "a eliminação espetacular" de Prigozhin dois meses após a tentativa de golpe “é um sinal de Putin às elites russas antes das eleições de 2024", afirmou pelo Twitter Mikhail Podoliak, conselheiro da presidência ucraniana, acrescentando que o líder russo "não perdoa ninguém".
A Casa Branca disse que o presidente dos EUA, Joe Biden, será mantido atualizado sobre os relatos do acidente. Antes de confirmar que Prigozhin estava no avião, a agência de notícias Reuters disse que Biden afirmou que a morte de Prigozhin "não o surpreenderia".
Atuação na guerra na Ucrânia
Até recentemente, o Grupo Wagner lutou pela Rússia na guerra na Ucrânia, sendo responsável, por exemplo, por tomar Bakhmut, a cidade que foi epicentro de algumas das batalhas mais sangrentas e longas desde o início da invasão russa na Ucrânia.
No final de junho, porém, frustrado com a ineficácia da liderança militar russa, Prigozhin mobilizou seus homens para marcharem até Moscou.
O motim teve fim horas depois, após negociações. Em seguida, Prigozhin se exilou temporariamente em Belarus, em um alegado acordo com o Kremlin.
Vídeo após motim
Nesta segunda-feira, Prigozhin,divulgou um vídeoem que afirma que sua milícia estaria tornando "mais livre" a África. Foi a primeira peça em vídeo que ele publicou desde a tentativa fracassada de insurreição contra a liderança militar russa.
"Estamos trabalhando. A temperatura passa dos 50 graus, bem como a gente gosta", comenta, de uniforme de camuflagem e fuzil na mão, no clipe de cerca de cerca de 40 segundos, divulgado pelo canal Grey Zone do serviço de mensagens Telegram. No vídeo, ele aparenta estar na África.
"O Grupo Wagner está realizando atividades de reconhecimento e busca. Fazendo a Rússia ainda maior em todos os continentes – e a África ainda mais livre", diz Prigozhin, acrescentando que seus homens estariam transformando num "pesadelo" a vida dos membros do "Estado Islâmico" (EI) e da Al Qaeda.
Além disso, o oligarca russo convoca recrutas para suas tropas no vídeo: segundo a agência de notícias Reuters, o clipe inclui um número de telefone para eventuais interessados.
Motim fracassado e presença militar crescente na África
Registrado como "companhia militar particular" (forças mercenárias são tecnicamente ilegais na Rússia), desde o início da guerra de agressão do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, o Grupo Wagner lutou ao lado do Exército russo regular.
Em 23 de junho de 2023, contudo, frustrado com a liderança militar, que classificou de ineficaz, Prigozhin mobilizou suas tropas para marcharem sobre Moscou. Entretanto, em seguida a negociações, a operação foi suspensa poucas horas mais tarde.
O Kremlin prometeu ao oligarca impunidade, sob a condição de que emigrasse para Belarus. Mas no fim de julho ele reapareceu na Rússia durante a cúpula para a África em São Petersburgo, acompanhado por um representante da República Centro-Africana.
Notório por sua brutalidade, o Grupo Wagner mantém forte presença militar na África, tendo estabelecido parcerias com diversas nações, entre as quais o Mali. Além disso, o golpe de Estado de julho no Níger – em que se depôs o governo e instalou uma junta militar – suscita temores de que o país possa se aproximar mais de Moscou.
Uma organização filiada à "companhia militar particular" russa divulgou uma mensagem, aparentemente de Prigozhin, saudando o golpe no país do oeste africano como parte de uma luta contra "colonizadores".
le, md (AFP, Reuters, DPA)