Museus e coleções universitárias na Alemanha abrigam 17 mil restos mortais de povos originários estrangeiros que foram parar ali por causa do colonialismo.
A conclusão é de uma pesquisa recente encomendada pelo governo federal alemão, pelos estados e pelos municípios.
Participaram do estudo 33 instituições que guardam coleções relevantes de restos humanos – incluindo arquivos antropológicos, anatômicos, médico-históricos, etnológicos e paleontológicos, principalmente os criados a partir de 1750.
De onde vieram esses itens?
Quase metade dos restos humanos (46%) não tem origem geográfica definida, segundo o levantamento. O restante veio, em sua maioria (71%), da África e da Oceania.
As coleções, porém, guardam materiais de todos os continentes, e o número pode ser ainda maior do que o detectado pelo estudo – isso porque mais de um terço das informações fornecidas aos pesquisadores representava um valor aproximado, e em apenas 68% das instituições esses itens estavam inventariados, número que cai para 48% se considerados apenas dados digitalizados.
"Forma como se lidou com restos humanos no passado é questionável"
O levantamento foi realizado pelo Escritório Alemão para Bens Culturais de Contextos Coloniais – uma instituição criada por decisão do governo, estados e municípios em 2019 para tratar do tema e cooperar com países estrangeiros –, e deve ser ponto de partida tanto para novas pesquisas quanto para a devolução desses itens.
Além disso, o escritório foi incumbido com a tarefa de elaborar diretrizes sobre como lidar com esses restos humanos do período colonial.
As consequências do levantamento deverão ser discutidas com especialistas, especialmente aqueles vindos dos países afetados. O Ministério das Relações Exteriores também disponibilizará os resultados da pesquisa à comunidade internacional.
"A forma como lidamos no passado com restos humanos de contextos coloniais na Alemanha foi muitas vezes questionável. Agora temos a chance de fazer melhor. Onde for possível, deve haver transparência e a organização de devoluções, com toda a sensibilidade necessária", afirma Falko Mohrs, presidente da Conferência de Ministros da Cultura (KMK), entidade que reúne encarregados na área de educação, cultura e pesquisa a nível nacional e estadual.
"Países querem poder enterrar seus antepassados em casa"
A ministra da Cultura, Claudia Roth, defende que ossadas humanas de contextos coloniais não devem estar em museus e coleções na Alemanha. Para ela, encontrar uma abordagem adequada para lidar com esses itens e desenvolver medidas para repatriá-los aos países de origem é algo que deve fazer parte do processo de enfrentamento da história colonial alemã.
"O levantamento é um primeiro passo muito importante. Mostra que a origem dos ossos humanos guardados em coleções alemãs é incerta em muitos casos. Especialmente essa pesquisa de origem pode contribuir para esclarecimentos adicionais."
Secretária do Ministério do Exterior, Katja Keul afirma que representantes alemães têm constatado que há interesse no tema por parte da comunidade internacional.
"Em várias conversas no exterior – seja com os descendentes de combatentes da resistência contra a colonização alemã ou com famílias que nunca puderam enterrar seus antepassados – constatamos esse desejo por mais transparência e informações [sobre o destino desses itens]", explica Keul. "Assim como o desejo bem concreto de poder enterrar seus antepassados em casa."
Para Keul, a pesquisa pode ajudar a criar relações de mais confiança com a comunidade internacional. "Confiança na nossa promessa de que estamos confrontando o nosso passado colonial e de que queremos fazer de tudo para devolver essas ossadas humanas."
ra (dpa, ots)