[Coluna] Para jovens, formação cidadã nas escolas é deficitária

Jovens são o futuro do país, mas só uma educação cidadã, com senso crítico e compreensão do funcionamento das instituições, fará deles agentes de transformação. Isso está acontecendo? Para muitos, infelizmente, não.

Por Deutsche Welle

"Será que um dia teremos um Brasil com menos desigualdades?", vira e mexe me pego perguntando. Às vezes, a linha de pensamento tende para o pessimismo, mas na maioria das outras acredito que mudanças são possíveis.

No entanto, creio que há alguns ingredientes para isso. O maior deles, provavelmente, é a construção cidadã do próprio povo. Temo ser um dos desafios mais hercúleos.

É necessário que o povo conheça a função das instituições e o papel dos governantes. Isso não é trivial e essa educação para o senso crítico e cidadania deve estar dentro das escolas.

Não aprendi nada disso no colégio, e aos 29 anos ainda estou aprendendo. Será que sou o único? Para entender, tive a oportunidade de entrevistar 84 jovens de 23 unidades federativas.

Os jovens conhecem as instituições e os governantes?

A Câmara dos Deputados é a instituição mais conhecida. Todos já ouviram falar sobre, e 28% avaliam que sabem mais a respeito dela do que a média.

Em relação ao Senado, 8,3% nunca ouviram falar e 82% avaliam o conhecimento sobre como menos do que mediano. Quanto ao Supremo Tribunal Federal (STF), 6% nunca ouviram sobre e 18% avaliam como zero o nível de entendimento do funcionamento da instituição. Além disso, 34% nunca ouviram falar sobre a Assembleia Legislativa do próprio estado.

Já em relação às funções de importantes agentes, mais da metade avalia como menos do que mediano o nível de entendimento das funções de um presidente. Quando se trata do senador, o percentual é ainda mais grave e apenas 15% dizem entender suas funções.

Não entendem as funções de um governador 68% e apenas 39% entendem o trabalho do prefeito da própria cidade.

Como avaliam a escola versus formação cidadã?

Para 90% dos entrevistados, o ensino oriundo dos colégios acerca do papel das instituições e dos governantes foi menos do que mediano. Sendo que para 30% deles, foi totalmente zero.

Para 68%, o colégio ajudou de forma mediana a se tornar um cidadão crítico e pronto para atuar na sociedade.

Os dados não podem ser subestimados. Essa garotada não pode seguir terminando o colégio dessa forma, pois assim não estamos possibilitando que tenham uma verdadeira atuação ativa na própria sociedade em que vivem.

O que pode ser feito? Para alguns, é possível ressignificar a existência de disciplinas já existentes, como sociologia, por exemplo, e abrir canais dentro delas para aulas para a plena formação cidadã. Já para outros, seria muito positivo a criação de disciplinas focalizadas integralmente neste tópico.

Vandson, jovem pernambucano, sugere: "Incluir aulas que abordem de forma interativa o funcionamento das instituições públicas, como o Congresso, e os papéis dos governantes. Isso pode ser feito através de simulações de debates e votações. Promover visitas a câmaras municipais, assembleias estaduais e até mesmo ao Congresso Nacional, para que os alunos vejam de perto como as coisas funcionam. Incentivar debates sobre temas atuais e relevantes, permitindo que os alunos expressem suas opiniões e aprendam a respeitar as opiniões dos outros. Desenvolver projetos que envolvam a comunidade, onde os alunos possam participar ativamente em ações sociais e políticas, como campanhas de conscientização."

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

Autor: Vinícius De Andrade

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