Com tanques de Israel em Gaza, conflito entra em nova fase

Incursão "preparatória" em território palestino controlado pelo Hamas durou poucas horas. Em Bruxelas, líderes da União Europeia pedem "corredor humanitário" e "pausas" nos bombardeios.

Por Deutsche Welle

Anunciada por Israel como preparativo para uma iminente invasão da Faixa de Gaza, a incursão de tanques israelenses vista nesta quinta-feira (26/10) no território palestino inaugura uma nova fase da guerra que o país trava contra o grupo radical islâmico Hamas desde os atos terroristas de 7 de outubro.

Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF), a ação no norte do enclave, deflagrada na madrugada, durou algumas horas e avançou cerca de um quilômetro fronteira adentro, investindo contra alvos do Hamas, que controla a região.

O objetivo, informaram os militares, era localizar sistemas de túneis e testar a capacidade de resposta do grupo. Ao menos um tanque israelense teria sido alvo de munição pesada durante a operação, mas sem registro de baixas.

"Eliminamos terroristas, neutralizamos ameaças, destruímos explosivos, neutralizamos emboscadas de modo a viabilizar as próximas etapas da guerra para as forças terrestres", anunciou um porta-voz da IDF.

Imagens divulgadas pela instituição mostram uma coluna de ao menos doze tanques de batalha e outros blindados avançando por uma parte aberta da fronteira e disparando contra uma área próxima repleta de prédios danificados.

UE pede criação de "corredor humanitário" e "pausas" temporárias nos bombardeios a Gaza

A operação veio após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, assegurar que a ofensiva por terra estava sendo preparada, sem detalhar "quando ou como", e em meio a tratativas entre líderes da União Europeia para pedir a criação de um "corredor humanitário" e "pausas" temporárias nos bombardeios para viabilizar ajuda humanitária em Gaza.

"O Conselho Europeu reitera a importância de assegurar a proteção de todos os civis em todos os momentos, em linha com o direito humanitário internacional, e rejeita todas as perdas civis", consta de um rascunho acordado pela UE na noite desta quinta durante uma reunião de cúpula em Bruxelas.

Segundo informações do Ministério da Saúde de Gaza – órgão controlado pelo Hamas –, o total de vítimas fatais no lado palestino passa de 7.000, dos quais 2.913 crianças – Israel contesta os números, que não podem ser verificados de forma independente. Há temores de que o total de vítimas possa aumentar em caso de uma invasão por terra.

Sitiada, Gaza encontra-se em uma "situação humanitária deteriorada", consta do texto da UE, que afirma que o bloco "irá trabalhar junto com parceiros na região para proteger civis, fornecer assistência e facilitar o acesso a alimentos, água, cuidados médicos, combustível e abrigo, assegurando-se de que essa assistência não seja explorada por organizações terroristas".

A declaração formal do bloco de 27 países, a ser emitida ao final da reunião que segue até a sexta, deve mencionar ainda o apoio à autodefesa de Israel "conforme a lei internacional" e a uma conferência de paz sobre a solução de dois estados.

Segundo o jornal britânico The Guardian, um diplomata europeu envolvido na redação do texto expressou preocupação de que uma eventual "pausa" nos bombardeios a Gaza pudesse permitir ao Hamas recompor as suas forças e executar um novo ataque, comprometendo o direito de Israel à autodefesa.

Mais de 1,4 milhão de deslocados no lado palestino, afirma ONU

A incursão-relâmpago em Gaza também ocorreu em paralelo a bombardeios da IDF contra o território, alguns em Khan Younis, ao sul do enclave.

Sob a justificativa de preservar a vida de civis em Gaza, as Forças Armadas israelenses haviam instruído a população a se deslocar para o sul, na fronteira com o Egito, mas sustentam que o Hamas tem seguidamente sabotado esses esforços e usado inocentes como escudo humano.

Classificado como organização terrorista por diversos países do Ocidente, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Reino Unido e pela União Europeia, o Hamas também tem disparado milhares de foguetes contra Israel.

Os bombardeios israelenses contra Gaza, que já caminham para a terceira semana, são uma resposta aos ataques terroristas de 7 de outubro, quando integrantes do Hamas invadiram Israel e mataram 1.400 pessoas, a maioria civis, além de fazer outras centenas reféns.

Segundo dados mais recentes de Israel, seriam 224 – outros quatro foram liberados; o Hamas alega que 50 já teriam sido mortos por bombardeios israelenses – a IDF não comentou a declaração, e não é possível verificar as informações de forma independente.

Os confrontos deslocaram 1,4 milhão dos pouco mais de 2 milhões de moradores de Gaza, segundo as Nações Unidas, que afirmaram nesta quinta não haver lugar seguro no território. No lado israelense, segundo o Ministério de Defesa, 250 mil pessoas foram evacuadas de regiões próximas do enclave e da fronteira com o Líbano, também alvo de bombardeios.

A ONU alertou ainda para a piora da situação humanitária em Gaza com a falta de combustível na região, essencial para a operação de usinas de energia. Em resposta, as forças militares israelenses reagiram afirmando que o Hamas ainda teria estoques vultosos de diesel para apoiar civis em Gaza.

ra (ots, DW, AP)

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