A poluição do ar é um problema importante em todo o mundo: ela contribui para cerca de 7 milhões de mortes por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), principalmente nas maiores cidades do planeta. Mas uma análise da DW revelou uma surpresa animadora: em muitas megacidades, o ar está melhorando, mesmo que lentamente.
A análise usou uma medida de poluição do ar: as PM 2.5, material particulado fino feito de vários tipos de partículas sólidas e gotículas líquidas com tamanho máximo de 2,5 mícrons, muito menor do que um fio de cabelo. Essa medida é frequentemente usada como um indicador dos níveis de poluição em geral.
"Quanto menores forem essas partículas, mais profundamente elas podem entrar no corpo", explica Sophie Gumy, do Departamento de Mudanças Climáticas, Meio Ambiente e Saúde da OMS. As PM 2.5 são tão pequenas que podem entrar nos pulmões e na corrente sanguínea, causando problemas respiratórios, doenças cardíacas e câncer de pulmão.
O material particulado nas cidades é causado principalmente pelas emissões de veículos. Também contribuem, em menor escala, os combustíveis sólidos, como carvão, madeira ou querosene, que são usados para energia, aquecimento e cozimento, juntamente com as emissões industriais e a queima de resíduos.
Para descobrir como os níveis de poluição evoluíram nos últimos anos, a DW analisou informações coletadas pelo provedor de dados suíço e fabricante de produtos de qualidade do ar IQAir, abrangendo os níveis de PM 2.5 para cidades com mais de 10 milhões de habitantes. Das 25 megacidades com dados disponíveis, 21 melhoraram seus níveis de poluição do ar entre 2017 e 2022.
Transporte limpo
Cidades em todo o mundo estão implementando várias estratégias para combater a poluição do ar. Em geral, elas miram o transporte. Medidas eficazes priorizam carros mais limpos e em menor número, promovem o uso de bicicletas ou os deslocamentos a pé e expandem o transporte público.
Bangkok, na Tailândia, está expandindo seus serviços – ainda limitados – de teleféricos e de metrô, enquanto Déli, na Índia, pretende eletrificar 80% de sua frota de ônibus.
A especialista Zoe Chafe, do Grupo C40 de Grandes Cidades para Liderança do Clima (uma rede que visa ajudar as quase cem megacidades associadas a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e os riscos climáticos), diz que muitas delas também estão testando zonas de baixa emissão.
Essas são áreas onde apenas alguns ou nenhum carro é permitido, e o desenho das ruas pode ser ajustado para dar mais espaço para pedestres e ciclistas. "Isso é algo que está repercutindo em todas as regiões do mundo no momento, e é realmente empolgante", diz.
Indústria
O setor industrial também é crucial. O plano de ação de Déli contra a poluição do ar, por exemplo, também se concentra na redução da poeira em obras da construção civil e na transição para combustíveis mais limpos e para tecnologias mais eficientes.
A cidade indiana continua sendo uma das mais poluídas do mundo, especialmente nos meses de inverno. Em 2023, a poluição atmosférica estava tão ruim que levou ao fechamento de escolas. Mesmo assim, Déli reduziu os níveis de poluição em 15% entre 2017 e 2022.
Um fator importante nisso pode ter sido o fechamento da usina de carvão Badarpur, em 2018. Estima-se que ela era responsável por cerca de 10% da poluição do ar por material particulado somente em Déli.
Gerenciamento de resíduos
Quando o lixo não é coletado e processado adequadamente, as pessoas recorrem à queima ao ar livre, causando uma poluição tóxica que contribui para a má qualidade do ar. Portanto, regulamentação e infraestrutura de gerenciamento de resíduos devem fazer parte do planejamento de qualquer cidade contra a poluição do ar.
Mesmo onde as leis existem, o progresso pode ser lento. "Há leis de gestão de resíduos sólidos desde 2016, mas elas ainda não foram implementadas", comenta a ativista Bhavreen Kandhari, da Índia. A fundadora do grupo Warrior Moms defende um ar mais limpo em toda o país asiático há mais de 20 anos.
Energia limpa
Quando as medidas são implementadas de forma abrangente, o impacto pode ser significativo. Cidades na China, por exemplo, reduziram drasticamente seus níveis de poluição nos últimos anos.
Esse é o resultado do que o governo chinês chama de "guerra à poluição do ar", um conjunto de medidas que mira todas as principais causas. Entre elas estão também os consumos de energia para aquecimento e eletricidade.
Pequim, por exemplo, impôs limites rígidos de emissão para as caldeiras domésticas e ofereceu subsídios a qualquer residência que fizesse a troca de caldeiras a carvão por gás natural ou eletricidade. Um estudo concluiu que a renovação dessas caldeiras foi responsável por 20% da redução da poluição atmosférica na megacidade.
Mas não é só na China: países do mundo todo estão investindo em energias renováveis, eliminando o carvão e buscando alternativas aos fogões a lenha e a carvão. Seul, na Coreia do Sul, já fez a transição para aquecedores a gás na década de 90 e agora está considerando alternativas ambientalmente melhores, como bombas de calor.
Melhores dados
O primeiro passo para as cidades melhorarem a sua qualidade do ar é aprimorar a coleta de dados. No Paquistão, por exemplo, ainda há pouquíssimas estações de monitoramento oficiais do governo, o que torna difícil saber como anda a qualidade do ar.
Mas pessoas como Abid Omar, que fundou em 2016 a Iniciativa Qualidade do Ar no Paquistão, estão tentando mudar isso. "Pessoas, empresas e organizações se uniram para instalar monitores de baixo custo e estão fornecendo os dados publicamente na Internet", explica. "E esses dados são o que está gerando conscientização."
Financiamento
Crucial para que as mudanças de fato ocorram são os recursos financeiros, observa Chafe, da C40.
"Pequim conseguiu investir muito no problema da qualidade do ar. E esta é a principal questão para muitas outras cidades neste momento: há dinheiro para investir e fazer uma mudança tão grande na qualidade do ar?"
Nos últimos anos, a China investiu mais de 20 bilhões de yuans (cerca de R$ 13 bilhões) por ano no controle da poluição do ar.
Cooperação
O ar poluído pode se deslocar por grandes distâncias, às vezes ultrapassando fronteiras. Esse é o caso, por exemplo, na Índia, onde a queima de plantações em estados rurais do norte causa uma forte poluição atmosférica em Déli e arredores todos os anos, após a época da colheita.
Problema semelhante afeta o delta do Nilo em torno do Cairo, no Egito, ou a Indonésia, cuja fumaça das queimadas agrícolas chega até mesmo a Singapura e Malásia.
Portanto, cidades, regiões e países precisam se unir contra esse problema, diz Chafe.
"No centro da questão está a saúde das pessoas. De onde vem a poluição do ar não é o que importa – extremamente importante é que ela seja reduzida."
E ainda há muito a ser feito: em quase todas as cidades do mundo, os níveis de poluição do ar excedem o limite da OMS de 5 microgramas por metro cúbico de ar.
Mas mesmo onde os níveis são altos, qualquer redução na poluição já melhora a saúde da população.
Além disso, qualquer esforço para reduzir a poluição do ar ajuda a combater as mudanças climáticas, já que ambas são impulsionadas por emissões provenientes da queima de resíduos e do uso de combustíveis fósseis.
Autor: Kira Schacht