Como reconhecer fake news?

Desinformação – seja sobre covid-19, mudanças climáticas ou migração – se espalha seis vezes mais rápido nas redes sociais do que fatos. Mas como identificar e verificar notícias falsas? Aqui, algumas dicas.

Por Deutsche Welle

Como reconhecer fake news? .
Como reconhecer fake news?
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Durante a campanha eleitoral de 2018, milhões de mensagens foram enviadas pelo WhatsApp em favor do então candidato à presidência Jair Bolsonaro. Entre outras coisas, elas sugeriam que o PT planejava uma ditadura comunista ou queria legalizar a pedofilia no Brasil.

Em abril de 2021, uma captura de tela com uma citação da copresidente do Partido Verde alemão Annalena Baerbock circulou no Facebook. Nela, a então candidata a chanceler federal supostamente pedia o fim da criação de animais de estimação, porque eles liberariam muito CO2.

Durante a pandemia, vários vídeos e postagens de médicos cujas declarações sobre o coronavírus contradiziam outras descobertas científicas se tornaram virais. O mesmo aconteceu com milhares de afirmações falsas sobre vacinas contra a covid-19.

Nos anos seguintes, intensificou-se a atividade desinformadora em torno de conflitos armados de grandes proporções, com vídeos falsos circulando, seja em torno dos choques em Israel em represália ao ataque-surpresa pelo grupo terrorista palestino Hamas, da invasão da Ucrânia pela Rússia ou da morte do líder mercenário Yevgeny Prigozhin, relacionada a essa guerra de agressão.

O que esses exemplos têm em comum? Todos são fake news: notícias falsas ou desinformação, ou seja, informações parcialmente ou mesmo completamente erradas que são disseminadas deliberadamente, por exemplo, para influenciar opiniões políticas ou para gerar o máximo de cliques possível.

As notícias falsas geralmente se espalham com a velocidade da luz e se tornaram um problema real no mundo digital. Muitos usuários têm dificuldade em distingui-las de informações confiáveis.

Por isso, aqui estão algumas dicas sobre como conter a enxurrada de informações falsas na internet. Este artigo é principalmente sobre fake news em forma de texto: a DW publicará em breve mais artigos sobre como identificar fotos e vídeos falsos.

1) É oportuno suspeitar

No último Relatório de notícias digitais do Instituto Reuters da Universidade de Oxford, mais da metade dos entrevistados disse ter visto informações falsas ou enganosas sobre o coronavírus na semana anterior. Mais de um quarto se lembrava de ter recebido fake news sobre celebridades.

Isso mostra que qualquer pessoa que usa a internet – inclusive as plataformas de troca de mensagens – deve mostrar um grau saudável de desconfiança e não levar tudo ao pé da letra – especialmente quando se trata de tópicos que lidam com emoção ou controvérsias, algo que parece chocante ou espetacular demais.

Foi esse o caso da alegada citação da copresidente do Partido Verde alemão, Annalena Baerbock, mencionado anteriormente. Ela nunca pediu que a criação de animais de estimação fosse proibida, mas, mesmo assim, muitos acharam que a citação fosse genuína.

Isso provavelmente teria sido evitado se o usuário da internet tivesse feito as seguintes perguntas:

- É um assunto que me desperta a atenção em particular, por exemplo, porque eu mesmo tenho animais de estimação?

- Está claro de onde vem a informação, ou seja, em que ocasião a citação teria sido feita?

- A informação – neste caso, a declaração de Baerbock – parece plausível?

- Quem poderia estar interessado em espalhar tal mensagem, neste caso, presumivelmente, para desacreditar a candidata verde e seu partido?

- Existem outras indicações de origem duvidosa, tais como erros ortográficos?

2) Quem está por trás disso?

As notícias falsas geralmente chegam aos usuários por meio de publicações em plataformas como Facebook, Twitter ou Instagram. Confira a conta usada para difundir a mensagem: por vezes, isso revela muito sobre os interesses e convicções do autor. Talvez nem haja ninguém real por trás do perfil, mas sim um bot ou troll (mais sobre o tema num futuro artigo).

Outra forma de divulgar informações duvidosas é por meio dos serviços de mensagens, como WhatsApp, Telegram e Messenger. Um exemplo disso são as já mencionadas mensagens de WhatsApp com que os brasileiros foram bombardeados durante a campanha presidencial de 2018.

De acordo com uma investigação do jornal Folha de S. Paulo, empresas brasileiras encomendaram a provedores de serviços de internet o envio de mensagens em massa a favor do então candidato Jair Bolsonaro. Os números de telefones celulares dos destinatários vieram da campanha eleitoral do extremista de direita e de terceiros.

Se você receber um conteúdo por meio de um serviço de mensagens, pode perguntar ao remetente de onde ele obteve as informações. Muitas vezes, a pessoa simplesmente a encaminhou sem questionar a veracidade ou a origem – o que não é um bom sinal.

O problema do retransmissão de mensagens falsas se tornou tão grande que o WhatsApp introduziu algumas mudanças: se a etiqueta "encaminhada" aparece logo acima do texto, imagem, áudio ou link, isso significa que ela foi encaminhada para você. Se houver um ícone de setas duplas e a etiqueta "encaminhada com frequência" é exibida, o conteúdo passou por cinco ou mais conversas antes de chegar até você.

Se uma mensagem já foi compartilhada com tanta frequência, ela só pode ser reencaminhada com certas restrições. Em alguns países, tais mensagens chegam com uma pequena lente de aumento: ao clicar nela, pode-se fazer uma pesquisa no Google com o texto da mensagem.

Se o texto tiver um link, também vale verificar a qual mídia ou página ele leva. O fato de haver um link não significa que a informação esteja correta! Existem sites que desconsideram os princípios jornalísticos e se concentram em dramatizações e exageros em prol do maior número de cliques possível.

Observando com atenção, é possível descobrir se acessou um site controlado pelo Estado, um blog privado ou até mesmo um site satírico. Os sinais de alarme para sites duvidosos incluem a falta da seção "Quem somos", bem como erros de texto, publicidade excessiva e layout pouco profissional.

Vamos dar uma olhada em worldnewsdailyreport.com como exemplo. Visualmente, o site parece moderno e profissional, mas muitos dos artigos mostram curiosidades. Por exemplo, um navio que desapareceu no Triângulo das Bermudas aparece depois de anos no Saara, um cabeleireiro acaba na prisão por fazer bonecos vodu com o cabelo cortado de seus cliente: E essa ainda é uma das histórias de crimes inofensivos: segundo outro texto no site, um irmão e uma irmã de Nova Jersey, EUA, podem se casar após uma batalha legal de dez anos.

Uma inspeção mais cuidadosa revela: trata-se de um site de sátira. O logotipo do portal diz "World News Daily Report – Where fatcs don't matter" – onde os fatos não importam". E rolando a barra lateral até o fim, encontra-se outra explicação de que todas as "notícias" no site foram inventadas.

Mas tenha cuidado: por trás de links desconhecidos também pode haver tentativas de acessar seus dados para fins fraudulentos. Se lhe for solicitado para introduzir senhas ou dados pessoais num local duvidoso, pode-se tratar de phishing, ou seja, um site falso que tenta adquirir ilicitamente dados pessoais, bancários e financeiros.

3) É verdade o que foi alegado?

E agora chegamos ao conteúdo real de uma postagem, uma mensagem encaminhada ou qualquer outro texto que também deve ser examinado criticamente. Em outras palavras: o que é dito ou mostrado parece coerente e imaginável?

Para saber mais sobre o respectivo tema, se pode pesquisar o que mais há sobre o tema nas máquinas de busca como o Google. Por exemplo, se um político fez uma declaração histórica ou algo inovador aconteceu, a notícia provavelmente constará de outros meios de comunicação de renome. A melhor maneira de encontrar esses resultados nas máquinas de busca é na guia "Notícias". Também se pode modificar as opções de pesquisa, tais como o período de publicação ou idioma.

Os sites de órgãos oficiais e instituições reconhecidas também são um bom lugar para obter informações confiáveis. O da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo, é uma fonte muito melhor de informações sobre o coronavírus do que vídeos no YouTube de médicos isolados. Mesmo que sejam especialistas, é possível que representem opiniões individuais, não deem uma visão geral sobre o assunto ou mesmo sejam negacionistas.

Se já existem referências concretas à origem da informação na notícia que pretende verificar – tal como um estudo específico, um programa de partido ou um discurso – então, se possível, confira o que o original realmente diz. Às vezes, as citações são encurtadas ou retiradas do contexto para dar-lhes um significado diferente.

Existem também vários sites dedicados a esclarecer notícias falsas. Você pode até encontrar um artigo que já expõe a notícia como falsa. No Brasil, há seções desse tipo nos sites da Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Agência Lupa, G1 e outros.

4) Não encaminhe tudo!

Como usuário da internet, você pode também ajudar a combater a influência negativa das notícias falsas ao simplesmente não encaminhar sem pensar tudo o que recebe. Porque é exatamente isso que muitas vezes acontece: a desinformação não se espalha por má-fé ou convicção firme, mas por falta de atenção. Além disso, muitos se deixam guiar pelas emoções.

O melhor é não passar nada adiante se tiver dúvidas sobre a origem da informação e quão confiável ela é. Em vez disso, comunique ao remetente suas ressalvas. Você também pode relatar a suspeita de mensagem falsa aos operadores da plataforma e/ou a um site de checagem de fatos.

Autor: Ines Eisele

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