Em depoimento nesta quarta-feira (22) à CPI da Pandemia, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, negou que a empresa tenha pressionado médicos a receitar e ministrar a pacientes com Covid-19 tratamentos sem comprovação científica.
Aos senadores, Batista assegurou que “não houve testagem em massa” de medicamentos como hidroxicloroquina e azitromicina. Segundo o depoente, a operadora de planos de saúde realizou um estudo observacional a partir da prescrição de médicos, sob demanda dos próprios pacientes.
“Quem prescreve qualquer medicação é o próprio médico. Naquele momento, houve (...) uma série de pacientes exigindo para prescrição da medicação. Isso quando veio diretamente ao encontro dos médicos que estavam na linha de frente, tentando salvar as vidas de pacientes, tornou-se uma situação necessária para que houvesse, após feita a prescrição, medicação disponível”, disse.
Batista afirmou que o estudo foi feito “partindo da premissa do que estava havendo nas prescrições médicas”, e assegurou que todos os pacientes que alegadamente usavam o medicamento por iniciativa dos médicos tinham ciência dos estudos em questão. “Quando foram feitos os estudos, todos os pacientes receberam termo esclarecido, e temos todos os teremos que os senhores precisarem”, assegurou.
A CPI queria confirmar ainda se o médico Anthony Wong, um dos maiores defensores do tratamento precoce, teria morrido vítima da Covid-19 num hospital do plano de saúde. O atestado de óbito não cita a doença como causa. O diretor da Prevent disse que não iria divulgar a informação sem autorização da família.
A revista Piauí informou que tem documentos comprovando que Wong morreu vítima da Covid-19, apesar de ser submetido ao chamado tratamento precoce com medicamentos como a cloroquina. Batista se defendeu dizendo que os médicos que denunciaram a Prevent alteraram os prontuários de propósito.
CPI: Prevent Senior alterava fichas com códigos de Covid-19
Rogério Carvalho (PT-SE) trouxe prints de conversas que mostram que a Prevent Senior orientou a alteração de fichas de pacientes de Covid-19 após 14 ou 21 dias (para quem esteve em UTI). Identificados nos prontuários com a Classificação Internacional da Doença (CID) B34.2, referente ao coronavírus, a classificação deveria ser alterada para pacientes sem necessidade de isolamento, segundo o texto. Os senadores acusaram Batista Jr. de fraude e de crime.
Acusado de mentir pelos senadores, que apontam que ele atuou em conjunto com o chamado “gabinete paralelo” do governo para elaboração de protocolos de tratamento contra a Covid-19, Batista passou da condição de testemunha a investigado pela comissão.
Relação com a família Bolsonaro
Os integrantes da CPI exibiram prints de mensagens publicadas no Twitter por filhos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendendo a atuação da Prevent Senior no combate à pandemia para defender protocolos da operadora.
“Prevent Senior diz ter estabilizado situação, tem vagas de UTI, já deu alta para 400 pacientes que tiveram Covid-19 e criou protocolo que reduzir de 14 para 7 dias tempo de uso de respiradores. SUS nunca a procurou para saber qual foi o protocolo usado”, escreveu o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).
“Dia ruim para quem torce pelo vírus. Parabéns à Prevent Senior. Isto é uma pesquisa séria, feita com ciência e não com politicagem”, respondeu o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Questionado pelos senadores, Pedro Batista disse que “não existe relação” entre o estudo e a família Bolsonaro. Segundo o diretor, não houve pressão para que os dados fossem revisados.
Na sessão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, reproduziu um áudio no qual o cardiologista Rodrigo Esper, diretor da Prevent, cobrava a revisão dos dados.
A gravação foi realizada após uma postagem de Bolsonaro nas redes sociais divulgando a pesquisa da operadora, afirmando que nenhum dos 412 pacientes da empresa que receberam cloroquina morreu vítima da Covid-19
Na gravação, Esper faz referência à postagem de Bolsonaro e afirma que é necessário “ajustar os parafusos”.
Pressão sobre médicos e pacientes
Pedro Benedito Batista Junior seria ouvido originalmente na quinta-feira da última semana (16), mas a CPI foi informada pela defesa do empresário que ele não havia sido comunicado a tempo para comparecer à comissão.
Os senadores querem investigar uma possível pressão para que os médicos conveniados à operadora prescrevessem medicamentos do chamado “tratamento precoce”. A investigação também apura se pacientes foram coagidos a aceitar os remédios.
Um dos médicos que denunciou a Prevent Senior por supostas irregularidades no tratamento de pacientes durante a pandemia registrou boletim de ocorrência da Polícia Civil de São Paulo.
O funcionário relata ter sofrido ameaças de Pedro Batista Junior. No documento que a Rádio BandNews FM teve acesso, ele relata uma ligação entre os dois em que o depoente teria dito que o médico estaria "expondo a filha e a família dele", caso insistisse em levar a diante a denúncia para a imprensa. Na ligação, o diretor afirma: “Você tem muito a perder, é a sua vida, é a sua família”.