Reagindo às críticas da oposição, que abortou conversas com o governo após acusá-lo de não fazer o suficiente para controlar a imigração, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, frisou que o país precisa atrair trabalhadores estrangeiros qualificados.
"Não há país no mundo com uma força de trabalho em declínio que tenha crescimento econômico. Essa é a verdade que nos confronta", disse Scholz em discurso no Parlamento (Bundestag) nesta quarta-feira (11/09).
O recado era direcionado aos conservadores da aliança CDU/CSU, que formam a segunda maior bancada do Parlamento e lideraram a coalizão de governo alemã por 16 anos entre 2005 e 2021 – sendo 12 deles ao lado do próprio SPD, partido de Scholz que hoje governa ao lado de verdes e liberais.
Scholz acusou os conservadores de tentar tirar vantagem da crise política atual sem se envolver em negociações de boa-fé sobre mudanças na política de imigração. "Só falam, não resolvem nada", queixou-se, para depois frisar que estava aberto a novas conversas.
Scholz: país deve continuar recebendo refugiados
Scholz destacou a importância de manter a Alemanha aberta à imigração – também de refugiados – e, ao mesmo tempo, controlar o fluxo de chegadas.
"Somos um país que oferece proteção àqueles que são perseguidos politicamente, que estão fugindo para salvar suas vidas", afirmou. "Isso está na nossa Constituição, e não vamos colocar isso em debate."
"Mas isso não significa que qualquer um que queira possa vir. Devemos poder escolher quem vem para a Alemanha", acrescentou o chanceler.
A argumentação aparentemente contraditória é sinal do dilema que a coalizão enfrenta entre zelar por princípios humanitários e constitucionais com o qual o governo se comprometeu ao assumir o mandato e, ao mesmo tempo, reagir à percepção pública de que a Alemanha estaria sendo sobrecarregada por uma imigração descontrolada – percepção essa que, segundo analistas, impulsionou o sucesso da ultradireitista AfD em eleições regionais recentes nos estados da Saxônia e da Turíngia.
Esses dois pleitos, junto com o de Brandemburgo – no dia 22, onde a AfD lidera as pesquisas –, estão sendo vistos como um termômetro do humor político do país, que daqui a um ano irá às urnas eleger um novo Parlamento.
Ataques a faca cometidos por imigrantes
Nas últimas semanas, a migração voltou a ser uma das questões no topo da agenda política do país na esteira de um ataque a faca na cidade de Solingen, no oeste do país, que deixou três mortos e oito feridos.
O suposto autor do atentado, cometido em 23 de agosto e reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico, é um sírio que havia solicitado refúgio. O homem deveria ter sido deportado para a Bulgária, país de entrada dele na UE e que, pelas regras, seria o responsável pela análise do pedido.
Antes disso, em maio, um afegão esfaqueou cinco membros de um grupo ultradireitista e anti-islã e um policial na cidade de Mannheim. O policial acabou morrendo em decorrência dos ferimentos.
A própria coalizão de Scholz também soa dividida sobre o tema migração. Liberais defendem que o assunto precisa ser encarado sem tabus e pressionam por uma cota de refugiados. Já os verdes insistem em uma posição que diferencie terroristas de refugiados que fogem justamente desse tipo de violência.
Controles fronteiriços mais rigorosos
Scholz disse que seu governo está trabalhando para realizar a "maior reviravolta no tratamento da migração irregular", citando esforços para acelerar deportações, reformas na política comum de asilo da União Europeia e um conjunto de propostas de segurança a ser apresentado ao Parlamento ainda nesta semana.
A partir de segunda-feira, a Alemanha aumentará a fiscalização nas fronteiras para pessoas vindas de ônibus, trem ou carro de países vizinhos do espaço Schengen, como Bélgica, França, Dinamarca, Holanda e Luxemburgo.
Controles semelhantes já foram introduzidos nas fronteiras com a Polônia, República Tcheca, Suíça e Áustria. O Ministério do Interior diz já ter barrado mais de 30 mil pessoas desde então.
O governo também está propondo deter requerentes de refúgio nas fronteiras por períodos curtos, até que as autoridades possam checar se a Alemanha é de fato o país responsável por analisar aquele pedido, de acordo com a hierarquia prevista nas regras da União Europeia.
O plano envolveria até mesmo a criação de instalações de detenção temporária e facilitaria a deportação de requerentes de refúgio rejeitados ou que deveriam ter sido registrados no país de entrada no bloco europeu.
Para que isso funcione, no entanto, é preciso que os outros países europeus envolvidos colaborem – e muitos já sinalizaram que não estão dispostos a tanto.
Já os conservadores querem que refugiados entrando por vias terrestres possam ser barrados diretamente nas fronteiras, algo que o governo de Scholz alega contrariar o direito europeu.
O líder da CDU, Friedrich Merz, rejeitou na quarta-feira os convites de Scholz para voltar à mesa de negociações, alegando que as políticas apresentadas pelo governo na terça-feira estavam muito aquém do necessário para limitar a migração.
"É por isso que não vamos entrar em um ciclo interminável de conversas com vocês", declarou.
ra (dpa, Reuters, ots)