Cuba anunciou nesta segunda-feira (04/09) que desmantelou uma "rede de tráfico de pessoas" sediada na Rússia que recrutava cubanos para lutar como mercenários na guerra na Ucrânia.
Um comunicado que o Ministério do Interior cubano "detectou e está trabalhando na neutralização e desmantelamento de uma rede de tráfico de pessoas que operava a partir da Rússia para incorporar cidadãos cubanos lá residentes, e alguns até de Cuba".
"Cuba não faz parte do conflito armado na Ucrânia", disse o Ministério das Relações Exteriores cubano, apontando ainda que o governo da ilha "está agindo e agirá energicamente" contra qualquer pessoa "que participe de qualquer forma de tráfico humano com a finalidade de recrutamento ou mercenarismo de cidadãos cubanos para usar armas contra qualquer país".
O governo local afirmou ainda que as autoridades "neutralizarão tentativas desta natureza e iniciarão processos criminais contra pessoas envolvidas nestas atividades".
O governo não especificou se algum cubano efetivamente se juntou à guerra na Ucrânia como parte dessa suposta rede, ou se o esquema tinha alguma ligação com o governo russo.
O ministro do Exterior cubano, Bruno Rodríguez, disse ainda que Cuba tem uma "posição histórica firme e clara contra" grupos mercenários e desempenha "um papel ativo nas Nações Unidas em repúdio desta prática".
Em maio, o jornal regional russo Ryazan Gazette apontou que "vários cidadãos cubanos" haviam se juntado às forças russas que lutam na Ucrânia, mas não está claro se o anúncio do governo cubano tem alguma ligação com esses relatos.
A guerra na Ucrânia reavivou uma antiga aliança da guerra fria entre uma cada vez mais isolada Rússia e uma emprobecida Cuba empobrecida. As declarações públicas de Havana sobre a suposta rede de recrutamento de mercenários marcam um raro momento de atrito entre os dois países.
A Rússia vem utilizando amplamente mercenários como parte do seu esforço de guerra contra a Ucrânia. Um exemplo foram as forças do Grupo Wagner.
"Por favor, tentem nos tirar daqui"
Na sexta-feira passada, o jornal América TeVe, de Miami, também publicou depoimentos de dois adolescentes que estavam em Cuba quando foram recrutados através do Facebook supostamente para trabalhar como pedreiros em canteiros de obras na Ucrânia ao lado do exército russo.
"Por favor, ajudem-nos; tentem nos tirar daqui o mais rápido possível, porque estamos com medo", diz um dos jovens de 19 anos num vídeo publicado no site do jornal.
Segundo o periódico, os jovens enviaram esta mensagem a partir de um ônibus no qual foram transferidos da Ucrânia com soldados russos para a cidade russa de Ryazan.
"Não conseguimos dormir pois não sabemos se a qualquer momento eles poderão entrar e fazer algo conosco", disse outro jovem. Eles também dizem ter sido espancados.
O veículo apresentou ainda o depoimento anônimo em áudio de outro cubano que também afirma ter assinado um contrato do tipo. O homem diz ter viajado de Cuba para a Rússia e que viu outros 18 compatriotas na mesma situação.
Uma quarta pessoa também disse ter assinado o acordo enquanto vivia na Rússia. "Sou mais um cubano que está aqui sob contrato com as forças armadas russas", disse sob anonimato ao América TeVe
ip (EFE, AFP, Lusa, ots)