Ao menos 17 pessoas foram presas em Cuba por suspeitas de associação a uma rede voltada para o recrutamento de jovens do país para combater pela Rússia na guerra Ucrânia, informou nesta quinta-feira (07/09) o governo cubano.
Nesta semana, Havana afirmou ter neutralizado e desarticulado uma "rede de tráfico de pessoas que operava a partir da Rússia para incorporar cidadãos cubanos lá residentes, e alguns até moradores de Cuba, às forças militares que participam de operações bélicas na Ucrânia".
Segundo as autoridades cubanas, três das pessoas presas "pertenciam ao esquema de recrutamento dentro da ilha", entre elas a "organizadora interna dessas atividades".
Outros 14 indivíduos confessaram que haviam aderido de forma voluntária e individual à operação em troca de uma compensação financeira substancial e do visto de residência na Rússia. Os suspeitos buscavam entre os cubanos pessoas interessadas em se alistar e combater na guerra.
Um funcionário da Promotoria cubana disse que as autoridades judiciais avaliam acusar os suspeitos de crimes como tráfico de pessoas, mercenarismo e atos hostis em um Estado estrangeiro. Essas acusações podem render penas de até 30 anos de prisão, prisão perpétua e até pena de morte.
Relatos de vítimas
Nos últimos dias, testemunhos em vídeo de dois jovens cubanos que disseram ter sido recrutados viralizaram nas redes sociais. Na gravação, eles contam que foram espancados e pedem para ser resgatados. A história foi veiculada por um telejornal da emissora America TeVe Miami, nos Estados Unidos.
Os dois jovens de 19 anos disseram que foram enganados ao serem recrutados por pessoas que os contactaram através do Facebook para trabalharem como pedreiros em obras de construção na Ucrânia, ao lado do Exército russo. A mídia de Miami apresentou outros testemunhos de cubanos que afirmam ter sido contratados pelas Forças Armadas russas.
A emissora estatal cubana também apresentou o depoimento do pai de dois jovens recrutados na província central de Santa Clara. Um deles não conseguiu deixar o país e será investigado, enquanto o outro já havia partido há mais de um mês. O pai se diz preocupado por não ter recebido notícias do filho que viajou para fora do país.
Havana nega envolvimento
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, negou categoricamente qualquer envolvimento do governo de Havana nas operações de recrutamento. Ele atribuiu aos "inimigos de Cuba" a disseminação de informações "distorcidas" que buscam "manchar a imagem do país e apresentá-lo como cúmplice dessas ações".
O governo cubano e a imprensa oficial vinham utilizando em grande medida a retórica de Moscou ao se referirem à invasão russa da Ucrânia, tradicional aliado político e parceiro comercial de Havana.
Na ONU, Cuba votou contra algumas resoluções defendidas pela Ucrânia e seus aliados contra a Rússia, mas também optou várias vezes por se abster em vez de apoiar explicitamente as posições de Moscou.
rc/le (AFP, EFE)