Reunidos desde sexta-feira (15/09) em Havana para a Cúpula do G77 + China, chefes de Estados e representantes de mais de 100 países do Sul Global pedem uma ordem mundial mais "justa" para os Estados em desenvolvimento.
"Depois de todo este tempo em que o Norte organizou o mundo de acordo com os seus interesses, cabe agora ao Sul mudar as regras do jogo", destacou na sexta-feira o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, que atualmente preside a organização.
O líder cubano disse que os países em desenvolvimento são as principais vítimas de uma "crise multidimensional" no mundo de hoje, que vai desde o "comércio abusivo e desigual" ao aquecimento global.
O G77 foi criado em 1964 para promover os interesses econômicos coletivos do Sul Global. Desde então, o bloco se expandiu e agora conta com 134 membros. A China não faz parte do grupo, mas participa desde 1992.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também disse que estes países estão "presos num emaranhado de crises globais", destacando as alterações climáticas e a dívida externa.
"O mundo está falhando com as nações em desenvolvimento", afirmou Guterres em Havana.
Na cúpula, os países em desenvolvimento pedem o reforço da rede de segurança financeira global e um acesso maior e mais equitativo ao financiamento internacional em tempos de crise, além de mudanças no Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, que permitam o reforço da sua participação nessas instâncias.
O G77 + China precede a Assembleia-Geral das Nações Unidas, que ocorre na próxima semana em Nova York.
Acordos bilaterais entre Brasil e Cuba
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou na sexta-feira para Havana para participar do evento. Lula também vai se reunir bilateralmente com o homólogo cubano para discutir a dívida de Cuba e a cooperação entre os dois países.
As relações bilaterais estiveram congeladas nos últimos anos, especialmente durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Desde 2014, na gestão de Dilma Rousseff, um presidente brasileiro não viajava à ilha caribenha.
Apesar da retomada das negociações com a posse de Lula, em janeiro, o presidente brasileiro tem uma questão espinhosa pela frente: a dívida que Cuba têm com o Brasil de cerca de 500 milhões de dólares, relativa a créditos concedidos há mais de uma década que, entre outras coisas, serviram para financiar as obras do porto de Mariel.
Havana informou que não pode arcar com estes pagamentos neste momento face à sua situação econômica. Agora, os dois países buscam alternativas.
Além desse assunto, Lula e Díaz-Canel devem debater a retomada da cooperação em diversas áreas, como comércio, saúde, energias renováveis e segurança alimentar.
De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que integra a comitiva brasileira, Brasil e Cuba retomarão acordo para desenvolvimento em conjunto de produtos para saúde.
Segundo ela, a meta é desenvolver produtos inovadores nas áreas de vacinas, medicamentos para doenças crônicas (alzheimer e diabetes) e remédios para gastrite a partir do uso de cana-de-açúcar.
De Cuba, Lula segue para Nova York, onde na próxima terça-feira será o primeiro chefe de Estado a discursar na Assembleia Geral da ONU, tradicionalmente aberta pelo presidente do Brasil.
le (Lusa, AFP, Reuters, AP, Agência Brasil)