Em delação vazada, Cid diz que Bolsonaro e militares discutiram golpe

Ex-ajudante de ordens do ex-presidente afirmou que comandante da Marinha expressou intenção de aderir ao plano, segundo veículos brasileiros.PF apura se minuta era a mesma encontrada com ex-ministro Anderson Torres.

Por Deutsche Welle

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) que o ex-presidente se reuniu com a cúpula das Forças Armadas logo após a derrota nas eleições presidenciais de 2022 para discutir uma minuta que anularia o pleito e resultaria em uma intervenção militar.

De acordo com reportagens divulgadas nesta quinta-feira (21/09) pelo portal UOL e pelo jornal O Globo, Cid, em sua delação premiada, teria dito que Bolsonaro, pouco depois da derrota para Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições, recebeu a minuta golpista das mãos de Filipe Martins, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais.

À PF, Cid disse que levou, junto com Martins, um advogado constitucionalista e um padre para a reunião com o então presidente no final do ano passado, mas disse não se lembrar dos nomes dos outros participantes. O assessor e o advogado teriam apresentado a Bolsonaro a minuta que, além de autorizar novas eleições no país, ainda determinava a prisão de adversários políticos.

Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro recebeu o documento, mas não expressou opinião sobre a estratégia. A PF investiga se a minuta golpista seria a mesma encontrada na residência do ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro Anderson Torres.

A minuta apreendida na residência de Torres em janeiro também autorizava a prisão de adversários, e determinava a decretação de um "estado de defesa" na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o objetivo de apurar supostas irregularidades nas eleições.

Almirante apoiou estratégia

Bolsonaro teria então conversado a respeito do documento com militares de alta patente. O único membro do Alto Comando das Forças Armadas a se manifestar favoravelmente à estratégia golpista teria sido o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, segundo a delação de Cid vazada pela imprensa.

Ele teria dito ao então presidente que suas tropas estavam prontas para atender a um possível chamado. Os demais comandantes militares, porém, não teriam aderido.

Garnier já havia se manifestado publicamente contra Lula, na ocasião em que rompeu o protocolo e se negou a participar da cerimônia de transmissão do cargo ao novo comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, escolhido pelo novo governo.

Cid disse à PF que Bolsonaro chegou a dar sinais favoráveis ao golpe, mas não ordenou diretamente que o plano fosse colocado em prática. Segundo o UOL, Cid relatou à PF que ele próprio teria participado na reunião.

Preocupações na caserna

A PF assinou um acordo de delação premiada com o ex-ajudante de ordens, homologado pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) em 9 de setembro e, desde então, vem impondo sigilo sobre as investigações, enquanto busca reunir provas contra o ex-presidente. Os investigadores suspeitam que as articulações envolvendo Bolsonaro e militares de alta patente estariam por trás dos atos golpistas de 8 de janeiro.

Cid estava preso desde maio por seu envolvimento no caso da falsificação de cartões de vacinação de Bolsonaro e outras pessoas próximas ao ex-presidente, mas foi colocado em liberdade após o acordo. O tenente-coronel também é alvo das investigações sobre o esquema de venda de presentes recebidos em viagens oficiais no exterior, como no caso das joias sauditas, e da suspeita de desvios de recursos públicos do Palácio do Planalto.

Segundo a reportagem do jornal O Globo, a delação de Cid aumentou as preocupações dos militares por envolver membros da cúpula das Forças Armadas, além de ministros de Bolsonaro que eram generais da reserva.

rc/bl (ots)

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