Em meio a impasse, Alemanha defende acordo Mercosul-UE

No dia em que agricultores protestaram em Bruxelas, chanceler federal Olaf Scholz e primeiro-ministro espanhol se pronunciaram a favor do tratado de livre comércio, fazendo contraponto a França e Irlanda.

Por Deutsche Welle

Em meio a impasse, Alemanha defende acordo Mercosul-UE DW
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Após a França se posicionar contra a ratificação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, chefe de governo da maior potência econômica do bloco europeu, saiu em defesa do tratado nesta quinta-feira (01/02).

"Gostaria de ver mais acordos de livre comércio. Lamento a hesitação e a lentidão com que as coisas estão progredindo, e isso também se aplica a este acordo que foi negociado durante tanto tempo [entre Mercosul e UE]", disse Scholz.

A declaração foi feita em Bruxelas, em uma coletiva de imprensa após uma cúpula extraordinária do bloco europeu, realizada para aprovar uma ajuda financeira de 50 bilhões de euros (R$ 269,9 bilhões) à Ucrânia, e paralelamente a protestos violentos de produtores rurais na capital belga.

Scholz também destacou que a política comercial da União Europeia é "de extrema importância" para o posicionamento do bloco no mundo e disse estar muito confiante que o acordo "dará certo", embora tenha evitado citar uma data para sua conclusão.

Outro líder que saiu em defesa do acordo nesta quinta-feira foi o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.

"Para a Espanha, o Mercosul é importante na relação econômica e geopolítica que devemos ter com um continente tão importante", afirmou Sánchez, também em Bruxelas.

Resistência da França e da Irlanda

Na semana passada, o presidente francês, Emmanuel Macron, pressionado por mais de uma semana de protestos de agricultores que chegaram a tentar "sitiar" Paris, disse que a França não daria seu aval para o fechamento do acordo.

A União Europeia e o Mercosul, formado por Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, concordaram com um texto de acordo comercial em 2019, após 20 anos de negociações intermitentes. Para que o tratado entre em vigor, porém, é preciso a assinatura de todos os países do Mercosul e de todos os Estados-Membros da UE.

A posição da França foi endossada nesta quinta-feira pelo primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, que afirmou que o "tratado comercial não pode ser ratificado na sua atual forma".

"Não podemos ter uma situação em que impomos regulamentos ambientais aos agricultores [europeus] e permitimos importações de países que não os têm", disse.

Os protestos de agricultores franceses pressionam o governo por uma série de questões, mas muitos também destacam o acordo com o Mercosul, temendo que ele deprecie ainda mais os preços de seus produtos e aumente a concorrência dos exportadores agrícolas sul-americanos.

Comissão Europeia diz que negociações continuam

Da parte da Europa, é a Comissão Europeia, e não os Estados-membros de forma isolada e individual, a responsável pelas negociações.

Desta forma, após as declarações da França, a Comissão Europeia garantiu, na terça-feira, que continua buscando formas de fechar o acordo de livre comércio com o Mercosul.

"As discussões continuam, e a União Europeia continua a cumprir seu objetivo de chegar a um acordo que respeite nossas metas de sustentabilidade e nossas preocupações, particularmente no que diz respeito ao setor agrícola", sublinhou o porta-voz da Comissão, Eric Mamer.

"Estamos em contato com nossos parceiros no Mercosul, e isso está em andamento em termos de negociações para os acordos comerciais", disse ele, acrescentando que o acordo comercial "é uma prioridade da Comissão Europeia".

Protestos em Bruxelas

As críticas ao acordo, porém, são apenas uma parte do descontentamento dos fazendeiros europeus. Em Bruxelas, nesta quinta-feira, agricultores jogaram ovos e pedras no Parlamento Europeu, e atearam fogo em pneus, exigindo que os líderes europeus façam mais pelo setor.

"Queremos acabar com essas leis malucas que vêm todos os dias da Comissão Europeia", disse José Maria Castilla, agricultor que representa o sindicato espanhol Asaja.

Pequenos grupos de manifestantes tentaram derrubar as barreiras erguidas em frente ao Parlamento Europeu, a poucos quarteirões de onde ocorria a cúpula. A polícia disparou gás lacrimogêneo e jogou água nos agricultores, para evitar o avanço.

Com a série de protestos, os fazendeiros já garantiram várias medidas, incluindo propostas para limitar as importações agrícolas da Ucrânia e afrouxar algumas regulamentações ambientais em terras de pousio (interrupção para deixar o solo mais fértil).

Além da França e da Bélgica, os agricultores têm protestado, também, na Alemanha, na Polônia, na Grécia e em Portugal.

le/ra (Lusa, Reuters, ots)

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