Em votação histórica, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos cassou nesta sexta-feira (01/12) o mandato do polêmico deputado republicano George Santos, 35 anos, filho de imigrantes brasileiros que se alçou à política com um currículo inventado e agora, onze meses depois da eleição, enfrenta uma série de acusações na Justiça por fraude e uso irregular de dinheiro de campanha, dentre outras suspeitas.
A medida foi aprovada por 311 votos – 105 do próprio partido – contra 114. Foi a terceira tentativa dos congressistas de destituí-lo do mandato desde maio – nas outras vezes, a maioria necessária de dois terços dos votos não foi atingida.
Antes de Santos, outros cinco políticos foram cassados em 230 anos de história do Congresso americano. As três primeiras, em 1861, foram de secessionistas confederados, enquanto as outras duas, em 1981 e 2002, de congressistas condenados por crimes de corrupção, o que torna o caso de Santos excepcional e sem precedentes, já que contra ele ainda não pesa nenhuma condenação – vários republicanos diziam-se relutantes em condenar um colega nessa situação.
Santos, que chegou a acompanhar a votação na Câmara dos Representantes, abandonou o plenário antes do anúncio do resultado, quando viu que sua cassação estava por se confirmar.
"Que este lugar vá para o inferno", reagiu ao ser cercado por jornalistas na saída.
Estelionato contra doadores e desvio de dinheiro de campanha
Desta vez, a cassação acabou prevalecendo sob o impacto de um relatório do Comitê de Ética da Casa que apontava "evidências consideráveis" de violações da lei por parte do congressista.
O documento, apresentado em meados de novembro, lista acusações de fraude contábil, lavagem de dinheiro, estelionato contra doadores e desvio de dinheiro de campanha para pagamento de gastos pessoais, como injeções de botox, sites eróticos, viagens e compras em lojas de grife, dentre outras suspeitas.
Santos responde na Justiça a 23 acusações, e deve começar a ser julgado em setembro do ano que vem.
Carreira política construída em cima de mentiras
Eleito em novembro de 2022, Santos logo foi acusado de inflar seu currículo e construir sua carreira política em cima de mentiras.
Ele mentiu quando disse ser neto de sobreviventes do Holocausto, quando afirmou que a mãe escapou da morte durante os ataques às Torres Gêmeas em Nova York e quando afirmou ser judeu.
Também mentiu quando disse que trabalhou em Wall Street e que tinha estudado na Universidade de Nova York (NYU).
O político omitiu ainda que respondia a um processo por fraude no Brasil, onde tinha vivido e de onde fugiu sem prestar contas.
"O devido processo está morto"
Santosse recusava a renunciar ao cargo, dizendo que seria uma admissão de culpa. "Vivemos em tempos em que a conveniência política é mais importante do que o processo", disse na semana anterior à cassação. "O devido processo está morto."
No dia anterior, ao ser chamado de "bandido" por outro congressista republicano, reagiu acusando-o de hipocrisia. "O meu colega quer vir aqui me chamar de ladrão, o mesmo colega que foi acusado de maltratar mulheres. Todos nós temos um passado."
A cassação de Santos deixa os Republicanos em uma situação delicada, já que o partido só tem maioria na casa por quatro assentos, e corre o risco de perder um deles agora para os Democratas.
A cadeira dele, que representa um distrito do estado de Nova York, está vaga até a realização de novas eleições, previstas para daqui a até três meses.
ra/le (EFE, AFP, Reuters, ots)