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Equipes encontram roupas, mochila e laptop nas buscas por desaparecidos no AM

Peças foram encontradas às margens do rio Itaquaí, neste domingo (12), quando se completa uma semana desde o desaparecimento

Por Yan Boechat

Equipes de buscas encontraram uma bermuda, uma calça preta, um par de botas e um cartão de saúde que pertenciam ao indigenista brasileiro Bruno Pereira, desaparecido com o jornalista britânico Dom Phillips na região do Vale do Javari, na Amazônia.  

Além dessas peças, bombeiros também encontraram uma mochila e sandálias que eram usadas por Bruno no dia do seu sumiço. A informação foi confirmada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). 

Uma mochila preta da marca equinox amarrada nos galhos das árvores que estão submersas também foi encontrada. Dentro dela havia um notebook, roupas, calçados e objetos pessoais de Dom Phillips. 

Os pertences foram encontrados nas margens do rio Itaquaí, neste domingo (12), quando se completa uma semana desde o desaparecimento de ambos na Amazônia.

O local foi identificado pelos indígenas que estão fazendo as buscas no Rio Itaquai na noite. Neste domingo, os bombeiros e a Polícia Federal foram ao local com mergulhadores e encontraram novos objetos. 



A entidade indígena também diz que uma segunda embarcação, que possivelmente seria de Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", suspeito de envolvimento no desaparecimento de Bruno e de Phillips, foi encontrada durante as buscas. 

A Polícia Federal, que coordena as buscas, confirmou que os objetos são de Dom e Bruno e que foram encontrados na região cercada para trabalhos de buscas.  O jornalista e o indigenista ainda não foram localizados.

O jornalista da Band, Yan Boechat, continua acompanhando as buscas pelos desaparecidos na Amazônia. 

O desaparecimento

O desaparecimento do jornalista e do indigenista completa uma semana neste domingo. Um suspeito foi preso, por porte de munição de uso restrito, mas nega envolvimento.  

Um material orgânico encontrado na região foi enviado para perícia e a Polícia Federal (PF) coletou material genético de referência de Phillips e de Pereira para comparar com sangue encontrado no barco de um pescador detido como suspeito na investigação.

O desaparecimento foi internacionalmente divulgado na segunda-feira (6) pela Univaja. 

Servidor de carreira da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. 

Dom Phillips,  colaborador do jornal britânico The Guardian, é veterano de cobertura internacional e mora no Brasil há mais de 15 anos.

Segundo lideranças indígenas, o jornalista e o ativista receberam ameaças de garimpeiros que atuam de forma ilegal na região.

A juíza Jacinta Silva dos Santos ordenou que o suspeito detido pelo desaparecimento do indigenista e do jornalista fique por pelo menos 30 dias sob custódia enquanto a polícia investiga seu envolvimento no caso.

Suspeito 

O suspeito, o pescador Amarildo da Costa, conhecido como “Pelado”, segundo a polícia, foi uma das últimas pessoas a verem Phillips e Pereira no domingo (5) antes do desaparecimento dos dois após visita a comunidade ribeirinha de pescadores de São Gabriel.

Eliésio Morubo, advogado da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari disse que a juíza concordou em manter o pescador preso por 30 dias, já que o caso envolve um possível "crime hediondo" como assassinato seguido de ocultação de cadáveres.

Detetives da Polícia Civil envolvidos na investigação disseram à agência Reuters que o foco está em caçadores e pescadores ilegais na região, que entravam constantemente em conflito com Pereira, que organizava patrulhas indígenas da reserva local.

Os advogados de Costa e sua família disseram que ele fazia pesca legal no rio, e negaram que ele tenha qualquer envolvimento no desaparecimento de Phillips e Pereira. 

Tortura

Em audiência de custódia, o pescador disse que foi agredido por policiais no momento da prisão. Disse que levou pisões nas pernas e que foi asfixiado com um saco plástico na cabeça, entre outras técnicas de tortura.

Amarildo da Costa chegou a ser defendido por advogados de duas prefeituras da região. Os procuradores, que têm a função de defender o município em processos na Justiça, deixaram a defesa do suspeito após a repercussão. 

Ronaldo Caldas da Silva Maricaua já foi prefeito interino de Atalaia do Norte e Davi Barbosa de Oliveira é procurador na vizinha Benjamin Constant.

Antes de Amarildo ser detido, o atual prefeito de Atalaia do Norte, Denis Paiva, foi à casa dele e conversou com ele. 

Reportagem

Dom e Bruno estavam viajando em reportagem em uma área remota da selva na fronteira entre Peru e Colômbia, que abriga o maior número de povos indígenas isolados do mundo. 

A região selvagem e sem lei atrai quadrilhas de contrabando de cocaína, madeireiros ilegais, garimpeiros e caçadores.

O trabalho era feio nos arredores da Terra Indígena Vale do Javari, na Amazônia. A região fica no extremo oeste do estado do Amazonas e lá vivem povos como Mayuruna/Matsés, Matis, Marubo, Kulina Pano, Kanamari, além dos pequenos grupos Korubo e Tsohom Dyapá — ambos de recente contato.

O desaparecimento da dupla repercutiu globalmente, com ícones brasileiros como Pelé e o cantor Caetano Veloso se juntando a políticos, ambientalistas e ativistas do direitos humanos na cobrança para que o presidente Jair Bolsonaro intensifique a operação de busca.

Após críticas de que o governo foi lento nos cruciais primeiros dias do caso, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), afirmou à Cúpula das Américas em Los Angeles na sexta-feira (10) que as Forças Armadas brasileiras estavam trabalhando de forma "incansável" para encontrar os dois homens.

As ruas de Atalaia do Norte, a maior cidade à beira do rio próxima do local onde os homens foram vistos pela última vez, ficaram mais cheias nos últimos dias, com soldados em caminhões camuflados e o som distante de helicópteros, ausentes no começo desta semana.

Lentidão

O governo brasileiro foi criticado e acionado na Justiça para que empenhasse todos os esforços nas buscas pelos desaparecidos. Hoje, o trabalho conta com o apoio da Marinha, do Exército, da Força Nacional e das forças de segurança do Amazonas.

Até a sexta-feira, cerca de 150 soldados haviam sido mobilizados em barcos para procurar os homens desaparecidos e entrevistar moradores locais.

Na quinta-feira (9), o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos afirmou que a resposta inicial do governo brasileiro foi "extremamente lenta" na busca, lamentando até mesmo o "desdenho" na fala de autoridades. 

Em entrevista na terça, Bolsonaro, associou o desaparecimento a uma “aventura que não é recomendável que se faça”.  

No início da semana, Justiça Federal do Amazonas determinou que a União enviasse imediatamente helicópteros, embarcações e equipes de buscas, já que não havia reconhecimento aéreo nos primeiros dias após o desaparecimento.  

Na sexta, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu um prazo de cinco dias para que o governo federal apresente um relatório detalhado com todas as providências que adotou até agora no episódio. Em despacho, o ministro disse que "é preciso reordenar as prioridades do país".

Familiares

Após a notícia do desaparecimento, a família do jornalista implorou às autoridades brasileiras que se empenhem nas buscas.

"Imploramos às autoridades brasileiras que enviem a Força Nacional, a Polícia Federal e todos os poderes à sua disposição para encontrar nosso querido Dom", disse o cunhado do jornalista Dom Phillips, Paul Sherwood, em rede social. "Ele ama o Brasil e dedicou sua vida à cobertura da Floresta Amazônica", completou

A esposa do jornalista, Alessandra Sampaio, também fez um apelo às autoridades para haver esforço nas buscas.  

“A gente ainda tem um pouquinho de esperança de encontrar eles. Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm que ser encontrados, por favor. Intensifiquem essas buscas. Estou fazendo esse apelo", disse ela.  

A irmã de Phillips que vive no Reino Unido, Sian Phillips, também cobrou as autoridades. "Cada minuto conta", disse.  

Uma carta aberta, divulgada pela família do indigenista Bruno Pereira, pediu prioridade e urgência. No texto, defende ainda que seja garantida segurança às equipes que trabalham no resgate.

Funai

Bruno era, até outubro de 2019, o responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai (Fundação Nacional do Índio). 

Na gestão do então ministro Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública, Bruno foi substituído por um missionário evangélico com pouca experiência no assunto. 

Segundo antigos colegas, ele deixou o posto por "incompatibilidade" com o atual presidente da Funai, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, e com as diretrizes do governo de Jair Bolsonaro para a fundação. 

Autorização

Na última semana, durante entrevista ao programa Voz do Brasil, transmitido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o presidente da Funai, Marcelo Xavier, afirmou que Bruno e Dom não tinham autorização para no Vale do Javari.

A Univaja, no entanto, diz que a "autorização Ingresso em Terra Indígena nº 11/CR-VJ/2022" (processo 08744.000170/2022-16), permitiu a entrada nas aldeias Kumãya, Maronal, Matkewaya, Morada Nova e São Sebastião, nas localizadas na Calha do Rio Curuçá. O objetivo era a participação em reuniões "com o intuito de discutir sobre o território e estratégias indígenas para protegê-lo".

*Colaboraram Andrey Mattos e Cleber Souza

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