Na terceira e última parte da série especial do Jornal da Band, o repórter Yan Boechat acompanhou um dia inteiro de trabalho de motoboys que fazem entregas em São Paulo.
Durante 12 horas praticamente sem pausas, a reportagem seguiu Elisângela Vieira, de 25 anos, e Ismael Cachoeira, 29 anos. Ambos entregadores com uma rotina pesada, de dores e emoções, todos os dias da semana.
“A gente entrega comida, mas muitas vezes não tem dinheiro para comer. Ou a gente põe gasolina e vai trabalhar com fome, ou a gente come e aquele dinheiro não vai render para pagar as contas depois”, relata Elisângela, que não sabe o que é ter um dia de folga do trabalho. “Nesse tempo todo acho que eu parei dois dias só, durante a pandemia”.
Ismael Cachoeira também não tem esse privilégio, já que precisa atingir metas para manter a renda. “Eu saio de casa com meta de R$ 120. As vezes até faço mais, mas é suado. É bastante ‘judiante’ essa parte aí”.
Distância da família
Além da rotina puxada em comum, tanto Elisângela quanto Ismael também precisam lidar com a distância da família, principalmente dos filhos. “Você perde uma parte da infância da sua filha”, diz Ismael, que tem uma bebê de dez meses de vida.
“Eu tenho que trabalhar muitas horas; não consigo acompanhar o desenvolvimento da minha filha. Tenho que deixar ela com os avós. Quando eu saio ela está dormindo, quando eu chego ela está dormindo. É difícil, mas eu não posso parar”, conta Elisângela entre lágrimas.
Autonomia?
Elisângela Vieira comentou ainda sobre a ideia, falsa em sua opinião, de que você tem autonomia de trabalho e horário nesse ramo. Segundo ela, não é bem assim.
“Você tem que trabalhar na semana para juntar pontuação e poder trabalhar na outra. Ou seja, se você ficar doente e ficar uma semana parada, na outra você já não pode trabalhar”, resume.
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