A CPI da Pandemia teveuma sessão extraordinária nesta sexta-feira e recebeu o médico sanitarista Cláudio Maierovitch, da Fiocruz, e a microbiologista Natalia Pasternak, da USP. Os especialistas criticaram as ações do governo federal, como o tratamento precoce e a aposta na cloroquina e a demora para a compra de vacinas. Os pesquisadores também explicaram que o momento ainda não é de deixar de usar máscaras.
Pasternak foi enfática ao explicar a ineficácia da cloroquina: "Não funciona em camundongos, não funciona em macacos, e também já sabemos que não funciona em humanos. Senhores, a cloroquina já foi testada em tudo. A gente testou em animais, a gente testou em humanos. A gente só não testou em emas porque as emas fugiram, mas, no resto, a gente testou em tudo, e não funcionou".
Senhores, a cloroquina já foi testada em tudo. A gente testou em animais, a gente testou em humanos. A gente só não testou em emas porque as emas fugiram
Para ela, quando o presidente defende esse tipo de medicamento, ele incentiva as pessoas a terem um comportamento descuidado em relação à pandemia.
"A crença de que existe uma cura fácil, simples, barata, rápida, que seria realmente o sonho de todos nós, que bom se isso fosse verdade, ilude as pessoas, cria uma falsa sensação de segurança e leva as pessoas a um comportamento de risco", afirmou a microbiologista.
Em outro trecho de seu depoimento, ela falou sobre o negacionismo nas políticas públicas: "Negar a ciência e usar esse negacionismo em políticas públicas não é falta de informação, é uma mentira. No caso triste do Brasil, é uma mentira orquestrada pelo governo federal e o Ministério da Saúde, e essa mentira mata".
Negar a ciência e usar esse negacionismo em políticas públicas não é falta de informação, é uma mentira. No caso triste do Brasil, é uma mentira orquestrada pelo governo federal e o Ministério da Saúde, e essa mentira mata
Pasternak ressaltou que esse debate sobre o tratamento precoce foi enterrado no ano passado e só é atual no Brasil. "Nós estamos pelo menos 6 meses atrasados em relação ao resto do mundo, que já descartou a cloroquina. Aqui no Brasil a gente continua discutindo isso", explicou.
A microbiologista foi além e asseverou que são raros os remédios antivirais. "Não é surpresa que a gente não tenha remédio para a Covid-19, surpresa é o Brasil não ter vacinas suficientes", disse ela em referência à demora para a compra dos imunizantes.
De acordo com informações da CPI, o governo ignorou 81 correspondências da Pfizer e deixou de comprar vacinas da farmacêutica americana e do Instituto Butantan que poderiam ter acelerado a imunização no Brasil.
Enquanto nós não tivermos uma quantidade enorme de pessoas vacinadas, nós temos que continuar com todos esses cuidados
O médico Cláudio Maierovitch comentou a intenção de Bolsonaro de desobrigar as pessoas vacinadas e as que já foram infectadas pela Covid-19 de usar máscaras.
"Enquanto nós não tivermos uma quantidade enorme de pessoas vacinadas, nós temos que continuar com todos esses cuidados", afirmou ele.
Maierovitch alertou para o alto número de infectados e mortos no país e sugeriu um lockdown nacional de até duas semanas para frear o vírus: "Nós precisamos de lockdown, nós precisamos de confinamento. Temos experiência mundial suficiente para saber da eficácia dessa medida".