Os Estados Unidos planejam aumentar a entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza através da instalação de um porto na região costeira do enclave, numa operação de grande porte que não deverá envolver militares americanos.
Fontes do governo americano disseram que o presidente americano, Joe Biden, anunciará a medida em seu discurso sobre o estado da nação, durante uma sessão conjunta do Congresso americano.
Com o bloqueio imposto por Israel a Gaza, em meio a sua ofensiva no enclave palestino, a população é assolada pela fome e por uma grave falta de recursos. Os envios aéreos organizados pelos EUA não são suficientes para abastecer a região.
Segundo um informe recente do Programa Alimentar Mundial (PAM), "o conflito em Gaza deixou toda a população de 2,2 milhões de pessoas em níveis de crise ou em outros mais graves de insegurança alimentar crítica". "Centenas de milhares de pessoas se acumulam em abrigos e hospitais superlotados, em meio à falta de comida e água", relatou a agência da ONU.
Diante dessa perspectiva, Biden ordenou às Forças Armadas americanas a construção de um porto temporário em Gaza, através do trabalho em parceria com "países afins e parceiros humanitários", segundo autoridades do governo americano que não quiseram se identificar.
O porto deverá permitir a entrega de centenas de cargas adicionais de ajuda por dia. "Para que possamos de fato lidar com as necessidades urgentes da população civil em Gaza e permitir que os parceiros humanitários possam distribuir de maneira segura a ajuda através de Gaza na escala que se faz necessária, é fundamental que tenhamos um cessar-fogo", afirmaram as autoridades americanas, citadas pela agência de notícias AFP.
Israel apoia medida
O planejamento da operação, que inicialmente seria realizada no Chipre, não prevê o envio de militares americanos a Gaza, e já teria sido iniciado sem aguardar o aval de Israel. Contudo, fontes do governo israelense citadas pela agência de notícias Reuters afirmam que Tel Aviv vê com bons olhos e "apoia totalmente" a iniciativa americana.
Gaza vem sendo alvo de pesados bombardeios israelenses, desde os ataques terroristas do grupo extremista Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, que mataram em torno de 1.200 pessoas. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, os ataques israelenses mataram até o momento mais de 30.800 pessoas.
O Comando Central das Forças Armadas americanas (Centcom) informou que aviões cargueiros C-130 lançaram nesta quinta-feira mais de 38.000 refeições sobre o enclave. Esta foi a terceira operação desse tipo em menos de uma semana.
"A operação conjunta incluiu aviões das Forças Aéreas dos EUA e da Jordânia e soldados do Exército americano especializado em entregas aéreas de ajuda humanitária", relatou o Centcom. Um comunicado do Exército jordaniano afirmou que aeronaves belgas, holandesas, egípcias e francesas também participaram dos esforços.
Hamas abandona negociações
O Hamas disse que sua delegação que participava das negociações no Cairo, no Egito, para um cessar-fogo em Gaza deixou a cidade, impondo novas dificuldades à tentativa de se chegar a acordo antes do início do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos.
Após quatro dias de negociações mediadas pelo Catar e pelo Egito para tentar assegurar uma trégua de 40 dias, ainda não havia sinais de progresso, com os dois lados se acusando mutuamente pelos entraves.
"A delegação do Hamas deixou o Cairo nesta manhã para consultas com a liderança do movimento", disse o grupo extremista em nota. Sami Abu Zuhri, um das lideranças do Hamas, afirmou que Israel vem prejudicando os esforços para a conclusão de um acordo.
O acordo apresentado ao Hamas inclui a libertação dos reféns ainda sob poder do grupo desde 7 de outubro, assim como de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Os extremistas insistem que o cessar-fogo deve entrar em vigor antes da libertação dos reféns, e que as forças israelenses devem sair de Gaza. Além disso, todos os cidadãos do enclave devem poder retornar às suas casas, de onde foram forçados a sair.
Em outro comunicado, o Hamas convocou os palestinos da Cisjordânia, Jerusalém e de outros pontos de Israel a comparecer em massa à mesquita Al-Aqsa durante o Ramadã, de modo a pressionar Israel a aceitar suas demandas para um cessar-fogo.
Entre os motivos pelos quais os negociadores querem chegar a um acordo antes do mês sagrado é justamente o temor de que a mesquita em Jerusalém possa se tornar um foco de violência.
Netanyahu promete manter ofensiva
O primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, reiterou nesta quinta-feira o objetivo israelense de continuar a ofensiva em Gaza. Anteriormente, o governo de Israel afirmara que tinha como meta a destruição do Hamas.
O governo israelense exige que os extremistas apresentem uma lista dos reféns que estão sob seu poder, mas o Hamas disse que não é possível relacioná-los pelo fato de eles estarem espalhados por diferentes pontos de seu território.
O porta-voz do governo israelense David Mencer acusa o Hamas de prejudicar as negociações ao não informar os nomes dos reféns que ainda estão vivos e sob sua custódia. O impasse aumentou o desespero das famílias das pessoas sequestradas, que pressionam o governo de Israel por informações. Em 7 de outubro, 253 pessoas apreendidas pelos terroristas no território israelense.
rc (Reuters, AFP, AP)