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Ex-embaixador do Brasil no Afeganistão avalia tomada de poder pelo Talibã e questiona discurso "amigável"

O diplomata e professor Fausto Godoy foi entrevistado ao vivo no Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes, na manhã deste sábado (21); ouça

Da Redação, com Rádio Bandeirantes

Afegãos tentam fugir do país após Talibã assumir o comando do país
Afegãos tentam fugir do país após Talibã assumir o comando do país
Reprodução/TV

O ex-embaixador do Brasil no Afeganistão Fausto Godoy foi entrevistado ao vivo no Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes, na manhã deste sábado (21). O diplomata e professor da ESPM-SP falou sobre as consequências da tomada do Afeganistão pelo Talibã.

Para Godoy, os talibãs foram criando força ao longo dos últimos 20 anos, marcados pela presença das tropas estadunidenses no Afeganistão. "Os insurgentes se retraíram para as aldeias, longe das grandes cidades, mas sempre estiveram soltos pelo país sem uma liderança centralizadora", começou.

"São grupos fluidos de pessoas com o mesmo ideal sufragista do radicalismo islâmico. E quando o governo foi institucionalizado pelos americanos, eles foram criando ímpeto para retomarem a questão", explicou.

O ex-embaixador avaliou o acordo entre Estados Unidos e Talibã que foi estabelecido durante o governo de Donald Trump, em fevereiro de 2020. Os EUA se reuniram com líderes do grupo fundamentalista em Doha, no Catar, para estabelecer o cronograma da retirada definitiva das tropas norte-americanas do Afeganistão. Em troca, os talibãs assinaram o compromisso de não usar o solo afegão para ameaçar a segurança dos EUA e seus aliados. Também se comprometeram a não perseguirem pessoas que se opõem ao regime radical.

"Era um acordo de vontade ou simplesmente um acordo para ganhar tempo enquanto os talibãs estavam tentando se arregimentar nas aldeias? Será que não foi apenas um acordo fictício? Os americanos ficaram surpresos com essa reação tão rápida", questionou Fausto Godoy.

Destino do Afeganistão com o Talibã no poder

O diplomata também fez um balanço da presença norte-americana no país e o que deve mudar agora que o Talibã recuperou o poder no Afeganistão. 

"O que aconteceu ao longo dos últimos anos: no governo que se instalou com o apoio dos americanos, houve uma certa liberalização da vida social. As meninas que, até então, viviam trancadas em casa puderam ir à escola, se formaram, e cumpriram um ciclo de aprendizado. Agora, isso tudo está em xeque", disse.

Godoy rejeita o discurso "amigável" dos talibãs, que garante que o povo não precisa temer o novo governo. 

"O que está havendo é uma cissiparidade de discurso. Tenho a impressão de que a cúpula dos talibãs tem uma visão de governo que não é entendida por toda a militância. A militância das províncias tem uma maneira muito primitiva de ver o mundo. Parece que as ordens que partem lá de cima não chegam embaixo. E cai nesse Afeganistão rural, do patriarcado imposto. Esse cenário cinza no meio do caminho", argumentou.

Falha dos Estados Unidos

O ex-embaixador questionou o planejamento norte-americano em relação à retirada das tropas militares do Afeganistão e que não previu a tomada de Cabul pelos talibãs. 

"O próprio Joe Biden disse que a retirada aconteceria muito mais tarde. Como pode o presidente admitir em público que ele estava equivocado e mal informado? Será que o exército mais bem armado do mundo e com a melhor inteligência foi incapaz de julgar isso? Acho que ainda não temos essa resposta, mas uma pergunta vai ficar na cabeça dos americanos por muito tempo: como foi que falhamos?", finaliza.

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