Ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde nas gestões de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, o epidemiologista Wanderson Oliveira acredita que, com o ritmo atual de vacinação, os brasileiros só terão uma trégua na taxa de contágio e de mortes causadas pela Covid-19 no segundo semestre de 2022. Ele ainda acredita que uma nova onda aconteça em junho, mais grave do que o pico que o Brasil vive desde fevereiro.
“A velocidade de vacinação que estamos fazendo deveria ser, em média de 1,5 milhões de doses por dia. Nós estamos fazendo, em média, 500 mil doses. Então estamos longe de atingir a excelência para proteger a população” disse o médico em entrevista ao programa Ponto a Ponto desta quarta-feira (28), no BandNews TV. Ele explicou que o ritmo de vacinação, somado ao fato que o Brasil se aproxima do inverno é um cenário desfavorável para o combate ao coronavírus.
Atualmente, o Brasil tem 6,9% de sua população totalmente imunizada com duas doses. Wanderson analisou que meta do Ministério da Saúde que abrangerá todos os grupos prioritários corresponde a 68% dos brasileiros ainda não é a ideal para diminuir os efeitos da pandemia e chegar à imunidade coletiva em 2021.
Citando estudos, Oliveira projeta que o Brasil atingirá meio milhão de mortes em consequência do coronavírus na metade de junho - o Brasil fechou a quarta (28) com 398.185 óbitos. Ele disse que o País poderia evitar uma terceira onda com uma mudança radical, mas não crê que isso vá acontecer.
“Para isso, teríamos que ter uma sincronização nacional de uma ação coordenada de uma parada estratégica durante três semanas consecutivas com intensidade de redução de trânsito nas cidades chegando a 70%. Eu acho que isso é muito difícil de acontecer”, projetou Wanderson.
Apesar da gravidade da pandemia e da necessidade de se ampliar a vacinação, o ex-secretário da Saúde defendeu a decisão da Anvisa em vetar a importação e o uso da Sputnik V. Ele corroborou as justificativas da agência sobre as dúvidas de segurança da vacina e exaltou a excelência e tradição da agência.
Sobre o comportamento do presidente Jair Bolsonaro, que é contrário às restrições de mobilidade e defende o uso de medicamentos não comprovados cientificamente contra a covid-19, Wanderson disse que Bolsonaro preferiu “dar ouvidos a quem não deveria ter dado” para sustentar sua narrativa durante a pandemia após as incertezas iniciais trazidas por uma doença desconhecida.
Wanderson também pontuou fatores que amplificaram a nova onda da covid-19 no Brasil: vários “feriados” no segundo semestre, as eleições municipais e o cansaço da narrativa para a prevenção da disseminação do vírus. Ele também criticou a falta de ação para prever crises como a falta de oxigênio no Amazonas, entre dezembro e janeiro, e as UTis lotadas por todo o País.
Assista, na íntegra, à entrevista de Wanderson Oliveira para jornalista Mônica Bergamo e o cientista político Antonio Lavareda no BandNews TV: