Famílias de reféns do Hamas não perdem a esperança

Israelenses que têm parentes sequestrados se dizem frustrados com governo de Israel e pedem que comunidade internacional ajude nas negociações com terroristas.

Por Deutsche Welle

Yair Moses tem dificuldade para dormir e parece exausto. Desde sábado, 7 de outubro, quando terroristas do Hamas atacaram o kibutz israelense Nir Oz, perto da fronteira com Gaza, ele não tem notícias dos seus pais Margalit e Gadi, nem de outros parentes.

"Não sabemos o que aconteceu com eles. Eles estão bem? Estão feridos? Minha mãe é uma mulher muito doente. Ela precisa de remédios", disse Moses à DW.

Nesta terça-feira (17/10), ele esteve em frente à embaixada da Alemanha em Tel Aviv segurando fotos dos seus pais. Os pais de Moses são divorciados, e a nova esposa de seu pai também está desaparecida, assim como a filha e duas netas dela. Moses esteve ao lado de outras famílias em frente à representação diplomática, algumas das quais têm ligações com a Alemanha ou possuem dupla cidadania.

Todos aguardavam para falar com o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, que viajou a Israel na terça-feira para demonstrar solidariedade ao país. Ele se reuniu com famílias cujos parentes estão desaparecidos ou que se acredita estarem sendo mantidos como reféns em Gaza.

Moses tem esperança de que a Alemanha ajude a pressionar pela libertação dos reféns. "A pressão precisa vir do mundo inteiro, e ficamos gratos por ele [Scholz] ter vindo", disse.

Longo processo de identificação das vítimas

A mãe de Moses, Margalit, está oficialmente listada como desaparecida. "Levamos amostras de DNA para a polícia, mas ainda não recebemos resposta", contou seu irmão Hanan Cohen à DW. "Só sabemos que o telefone dela está em algum lugar em Gaza. E que o ex-marido dela, Gadi, está em Gaza como refém. Mas não sabemos ao certo o que aconteceu à minha irmã, à mulher de Gadi e aos filhos."

Ele disse que eles precisam urgentemente de informações sobre seus parentes.

O processo de identificação dos mortos durante os ataques terroristas de 7 de outubro ainda está em curso e, para alguns, ainda não há certeza sobre o que aconteceu aos seus familiares.

Até agora, as famílias de 203 reféns foram notificadas pelos militares israelenses de que seus entes queridos estão detidos em Gaza, confirmou um porta-voz do Exército. Os grupos radicais islâmicos Hamas e Jihad Islâmica afirmam que mantêm até 250 reféns, incluindo civis e soldados. Tanto o Hamas como a Jihad Islâmica são designadas organizações terroristas pela União Europeia (EU), pelos Estados Unidos e outros.

O governo israelense declarou guerra após os ataques do Hamas a mais de 20 comunidades no sul de Israel, onde os terroristas mataram centenas de civis e soldados e fizeram reféns.

Desde então, cerca de 1,4 mil israelenses foram mortos, entre eles muitos civis. Na Faixa de Gaza, isolada e governada pelo Hamas, onde vivem cerca de 2,2 milhões de pessoas, o número de mortos no subsequente bombardeamento de Israel ao pequeno enclave passa de 3,7 mil, de acordo com as autoridades locais de saúde palestinas.

Dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas das suas casas no meio de um cerco total imposto por Israel, que prometeu erradicar completamente o Hamas da área.

Mantendo pressão sobre o governo

Com o conflito na sua segunda semana, familiares e amigos dos desaparecidos e sequestrados montaram uma tenda perto do Kiriya, o complexo do Ministério da Defesa de Israel no centro de Tel Aviv, para pressionar o governo a trazer os reféns para casa. Acredita-se que uma iminente invasão terrestre em Gaza complicará o resgate ou qualquer negociação potencial para um acordo de reféns.

O Hamas e outras facções militantes afirmam que até agora mais de 20 reféns foram mortos pelos ataques aéreos massivos de Israel em Gaza.

Na terça-feira, Orly Bar Kima, de Tel Aviv, cortou fitas amarelas e distribuiu-as aos participantes do encontro. As pessoas seguravam cartazes de desaparecidos ou sequestrados, enquanto algumas distribuíam rosas brancas.

"Queremos dizer ao nosso governo, queremos dizer a todo o mundo, que nós queremos os nossos filhos de volta. Queremos as nossas mães, as nossas avós de volta", disse Orly Bar Kima à DW. "Estamos todos juntos nisso, e é responsabilidade do governo trazê-los de volta."

Atualmente, não há informações sobre se estão ocorrendo negociações indiretas, e alguns familiares estão revoltados com o que consideram uma resposta lenta do governo.

No domingo, 15 de outubro, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reuniu-se com algumas das famílias, prometendo trazer os reféns para casa – a primeira reunião deste tipo, mais de uma semana após os ataques terroristas.

Tzachi Hanegbi, chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, teria dito no sábado que não há atualmente nenhum esforço ativo de negociação em andamento. Ao mesmo tempo, os esforços internacionais para ajudar a garantir a libertação dos reféns aumentaram.

A questão esteve na ordem do dia durante a curta visita do presidente dos EUA, Joe Biden, a Israel, na quarta-feira, uma vez que há vários cidadãos americanos entre os desaparecidos e raptados. Biden pediu que a Cruz Vermelha Internacional tenha acesso aos reféns e disse que os EUA estão "trabalhando com parceiros em toda a região" para resolver o problema.

A visita do presidente dos EUA também resultou em anúncios de que o Egito e Israel permitiriam que um número limitado de caminhões com ajuda humanitária cruzasse a passagem de Rafah, do Egito para Gaza. A situação da população civil de Gaza, encurralada no enclave, piorou dramaticamente desde o início da guerra, com Israel tendo cortado o fornecimento de eletricidade, água e alimentos.

Ajuda a Gaza irrita famílias de reféns

Israel disse que não permitirá a passagem de ajuda através das suas próprias fronteiras com Gaza, que estão completamente fechadas, até que o Hamas liberte os reféns. Mas o gabinete de Netanyahu disse que permitiria a entrada de água, medicamentos e alimentos vindos do Egito, no sul de Gaza – desde que não chegassem ao Hamas.

O acordo sobre a potencial entrega de ajuda foi recebido com duras críticas por parte do grupo Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, formado para representar algumas das famílias dos sequestrados. Um comunicado divulgado pelo grupo disse que foi "uma decisão terrível" permitir ajuda humanitária a Gaza.

No passado, países como o Egito e o Catar ajudaram na mediação entre o Hamas e Israel. A Alemanha também teria estado envolvida na negociação de um acordo de troca de prisioneiros entre o grupo xiita libanês Hisbolá e Israel em 2008. Israel e o Hamas negociaram indiretamente um acordo de troca de prisioneiros pela última vez em 2011, quando um soldado israelense, capturado em 2006 por militantes do Hamas, foi libertado após cinco anos de cativeiro em troca de mil palestinos detidos em prisões israelenses.

Mas desta vez, com o grande número de reféns, entre eles civis, incluindo idosos, crianças e jovens, a tarefa é mais complicada.

Para a família de Margalit Moses, cada dia se tornou um pesadelo. "Cada notícia é melhor do que não saber", disse seu irmão, Hanan Cohen. "Mesmo que ela esteja morta, eu só preciso saber."

Autor: Tania Krämer

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