O que Nova York, Cidade do México e Amsterdã têm em comum? Além de serem cidades famosas e muito visitadas, elas estão estão afundando. É isso mesmo que você leu! Por razões diferentes, essas três cidades estão enfrentando problemas com afundamento.
E para entender o motivo desse fenômeno, conversamos com o geólogo, especialista em Geologia Estrutural/Tectônica e Geotécnica do Instituto de Geociências da UFBA, Prof. Dr. Luiz Cesar Correa Gomes.
No caso de NY, o causador do problema é o peso dos prédios. Essa carga vem afundando a cidade, principalmente a ilha de Manhattan, 2 milímetros por ano.
“A cidade de Nova York tem uma geologia um tanto complexa. Ela tem partes do substrato, que são rochas, e do cristalino, que são rochas mais resistentes. Tem materiais um pouco menos resistentes, que são rochas sedimentares. E também tem parte da cidade que foi aterrada, conquistada das águas que estavam ao redor da cidade, especificamente. Então, existe uma relação clássica entre a quantidade de carga que a cidade tem sobre o substrato rochoso, né? A parte de Nova Iorque está afundando mais é a parte baixa da cidade, lower Manhattan. Então, existe uma razoável correlação entre o que os cientistas estão dizendo e o que está acontecendo: muito provavelmente a carga das construções em cima das rochas mais moles é o que está gerando esse afundamento”, confirmou o professor.
Luiz César apontou os perigos desse afundamento para quem mora na ilha. “O problema é que isso pode acabar afetando os suportes de base dos prédios e pode criar problemas de rachaduras, que depois podem evoluir para coisas um pouco mais graves”, afirmou.
Cidade do México também tem problemas
Já o caso da Cidade do México é um pouco mais complexo. Na região, há uma constante movimentação de placas tectônicas e terremotos, o que contribuem para o afundamento do solo. Em alguns locais, o afundamento chega a 50 cm.
“Tiveram vários terremotos afetando a Cidade do México. E ela é dividida também em rochas cristalinas, mais firmes e em outra parte, ela tem uma bacia sedimentar que o pessoal chama de “cuenca”. Então, normalmente, esses fenômenos acontecem nessa parte, que é sedimentar. Quem vive na parte das bacias sedimentares têm maiores problemas. Os terremotos também têm essa característica: eles podem fazer com que haja uma desarrumação do substrato rochoso embaixo dessas cidades, causando esses afundamentos. Uma outra possibilidade que é aventada também, além dos terremotos, é que está havendo muita retirada de água do aquífero subterrâneo na Cidade do México, e aí isso poderia estar causando pequenos colapsos de acomodação”, contou.
Estacas de Amsterdã são dores de cabeça na Holanda
O professor também comentou sobre Amsterdã. A cidade foi construída sobre estacas de madeira, que com o tempo, estão cedendo e causando problema. Além disso, a geografia não favorece o local: Amsterdã foi erguida abaixo da linha do mar.
“O pessoal que fez a investigação lá na Holanda sobre esses problemas concluiu que houve uma negligência na manutenção dessas estacas E também uma falta de modernização. Foram mostradas que as estacas são de madeira e elas já não aguentam mais o peso que foi colocado. E aí você pega de 400 anos atrás até agora, veja o que deve ter acontecido em termos de aumento de carga de construções sobre essas estacas. E aí, tem o outro problema: Amsterdã está nos Países Baixos e tudo isso aí foi construído abaixo do nível do mar. Então, você tem um problema de estaqueamento e ainda tem o problema dos diques, que também estão começando a ter problemas por causa desse abaixamento do solo” afirmou.
Mas um ponto em comum em todos os casos, destacado pelo professor, é ação humana. Em todos os casos, o avanço das construções sobre áreas antes ocupadas pela natureza, são fundamentais para a causa dos problemas.
“A participação humana tem sido cada vez mais marcante nesses desequilíbrios, de variações de níveis da de solo. Não só nessas cidades, como também em outras cidades. É um problema de ocupação desordenada, com problema de achar que o que o homem conquistou, a Terra um dia não vai reconquistar. É óbvio que não existe isso. A grande questão é: é mais fácil remediar ou prevenir?”, indagou o professor.