Há 250 anos foi publicado o romance epistolar Os sofrimentos do jovem Werther, projetando Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), então com 25 anos, no topo do mundo literário. Reza a lenda que o imperador Napoleão Bonaparte teria lido sete vezes o livro, o qual foi praticamente o único assunto durante um encontro seu com o literato alemão.
O protagonista é Werther – que parece não ter um prenome, pois é sempre mencionado pelo sobrenome. Enquanto ele se exalta cada vez mais nos sentimentos por sua paixão, Lotte, esta permanece fiel ao noivo. Não encontrando uma saída para esse amor não correspondido, acaba por se suicidar.
Em plena época do Sturm und Drang – "tempestade e ímpeto", em que os autores jovens se opunham à obsessão dos nobres com a razão –, com seu Werther, Goethe falou diretamente ao espírito da nova geração. Muitos, sobretudo rapazes, pareciam encontrar ressonância no protagonista, até mesmo se identificando com ele. A onda perdurou: em 1887, o compositor francês Jules Massenet baseou uma ópera no influente livro.
Um dos sintomas da assim chamada "febre Werther" foi a imitação da moda descrita no romance. "Os jovens passaram, por exemplo, a se vestir como Werther – jaqueta azul e colete amarelo –, o que era totalmente inusual", conta Heinz Drügh, professor de história literária dos séculos 18 e 19 da Universidade Goethe de Frankfurt.
Segundo ele, tratou-se de um "fenômeno pan-europeu", mas que também é muito popular até os dias atuais na Ásia Oriental. No entanto Drügh acha improvável um romance exercer tamanha influência sobre a sociedade hoje em dia, pois "as vivências identificativas fortes vêm antes dos filmes e da música do que da literatura".
Em 1774, Werther "inaugurou algo novo": com ele, Goethe lançava uma nova maneira de pensar. Do ponto de vista contemporâneo, ele seria algo como um "astro pop", define o professor de literatura, "pois a forma de identificação com esse texto foi, de fato, tão forte, como hoje em questões de cultura pop".
O lado sombrio, popstars e os "mini Werthers" das redes sociais
No entanto a influência do Werther também teve seus aspectos sombrios: em seguida à publicação registrou-se uma série de suicídios que foram relacionados ao romance. Posteriormente Goethe publicou uma segunda versão de Os sofrimentos, mais abrangente, também com o fim de ajudar o leitor a se distanciar da personagem central.
O sociólogo David Philipps cunharia 200 anos mais tarde o termo "efeito Werther", para descrever como representações romantizadas de suicídio na mídia pode desencadear comportamentos de imitação, sobretudo entre adolescentes.
Até umas poucas décadas atrás, os popstars eram os modelos de comportamento clássicos. Porém, como explica o psicólogo e psicoterapeuta Lothar Janssen, hoje em dia, através das redes sociais, os modelos "se fragmentam em segmentos parciais, não mais palpáveis", sobretudo entre as gerações mais jovens.
Ele identifica "mini Werthers" na internet: jovens que compartilham nas redes sua forma de lidar com doenças psíquicas. Muitas vezes, outros podem se identificar com eles, porém suas postagens costumam ter "características exibicionistas" e chegam ao grande público sem filtro, através da internet.
Especialistas enfatizam a importância de falar abertamente de doenças psíquicas e de suicídio, mas a forma de abordar é decisiva, sobretudo na mídia. Para evitar um "efeito Werther", é preciso cuidar para não romantizar estados mentais perigosos.
No entanto, os astros pop não estão totalmente descartados. A cantora americana Taylor Swift, por exemplo, serve bastante bem como modelo de comportamento, cita o psicólogo Janssen: em torno dela formou-se uma comunidade que os fãs que se sentem "acolhidos e bem".
Por fim, embora Goethe tenha perdido seu status de astro, ele e suas obras, inclusive Os sofrimentos do jovem Werther, permanecem até hoje bem presentes na consciência cultural universal.
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Caso enfrente problemas emocionais e tenha pensamentos suicidas, não deixe de procurar assistência profissional. Você pode também buscar ajuda neste site: https://www.befrienders.org/portugese.
Autor: Annika Sost