
O cessar-fogo entre Israel e Hamas expira no sábado à noite. Ambos dizem que querem que ele continue: Israel, para receber de volta 25 reféns ainda vivos e 30 outros mortos; e o Hamas, pela libertação de mais prisioneiros palestinos — e passar em paz o mês sagrado do Ramadã, que começa nesta sexta-feira.
Na madrugada de hoje, quatro restos mortais de reféns israelenses foram trocados por esperados 620 prisioneiros palestinos, em Gaza e Ramallah. Foi o final da primeira fase de 42 dias do acordo, que previa, em seu 16º dia, o início da negociação de uma segunda fase, que deveria incluir o fim da guerra de mais de 500 dias.
Hoje partiu para o Cairo uma delegação israelense para sondar se haverá novas negociações. O acordo da primeira fase prevê que o cessar-fogo pode ser estendido enquanto Israel e o Hamas continuem a trocar reféns por prisioneiros, e seja mantida a ajuda humanitária para Gaza.
Dos cerca de 250 israelenses sequestrados no ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, restariam 55, vivos e mortos, depois que 30 reféns, incluindo cinco tailandeses que trabalhavam na lavoura em kibutzim da fronteira com Gaza, foram trocados pelo total de 1.500 prisioneiros aos sábados e quintas-feiras dos últimos 40 dias.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já declarou que não retirará as tropas ainda em Gaza, no Corredor Filadélfia, que demarca a fronteira com o Egito, enquanto o Hamas estiver no poder civil e militar de dois milhões de palestinos. Ele propõe o exílio da liderança do Hamas, como em 1982, quando Yasser Arafat, líder da OLP, foi obrigado a partir de Beirute, e a rendição de todos os combatentes.
O Hamas rejeita a retirada e a desmilitarização, e procurou demonstrar, nas entregas de reféns, que está no poder em Gaza, depois de ter recrutado um número de jovens palestinos igual ao de combatentes mortos nos ataques israelenses.
Como agravante, a extrema direita israelense ameaça derrubar Netanyahu se a guerra não recomeçar. O presidente Donald Trump deu sinal verde para Israel seguir o caminho que quiser. Ontem, na Casa Branca, diante da imprensa, ele comentou que estava “muito decepcionado” com o Hamas: “Eles acham que estão fazendo um favor ao nos enviar corpos... Este é um grupo cruel de pessoas”. Fosse ele, acrescentou, teria retornado à guerra. O presidente francês Emmanuel Macron também se pronunciou sobre a última entrega de restos mortais pelo Hamas, na madrugada de quinta-feira. Num dos quatro caixões havia um cidadão franco-israelense, “nosso compatriota Ohad Yahalomi”, que lutou contra os terroristas em 7 de outubro de 2023, e foi levado para Gaza com um tiro na perna.
“Nessas horas suspensas de dor e angústia, a nação está ao seu lado”, postou Macron no X.
O enviado especial da Casa Branca ao Oriente Médio, Steve Witkoff, visitaria Israel e vários países árabes nesta semana, para relançar as negociações da segunda fase do cessar-fogo, mas foi mobilizado para concluir o acordo de terras raras entre Estados Unidos e Ucrânia. Ele deve retomar sua agenda na semana que vem, mas ainda sem confirmação..
O porta-voz do Hamas, Abdel-Latif al Qanou, reforçou o desejo de estender a primeira fase do cessar-fogo, desde que fossem mantidos o fim da guerra e a retirada total das forças israelenses.
Um grupo de “desobediência civil” criado entre os israelenses, em novembro, para se interpor entre os radicais de direita e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, está se mobilizando para novas manifestações. Ele vai atuar ao lado do Fórum dos Reféns e Desaparecidos, que reúne milhares de apoiadores contra o reinício da guerra e pela libertação dos reféns vivos e mortos ainda em Gaza.
O grupo, Shift 101, vai se manifestar às quatro da tarde na Azza Road, perto da residência do primeiro-ministro, em Jerusalém, para o que está chamando de “protesto de fúria”. Ele também está divulgando um folheto com instruções sobre desobediência civil. Em preparação há um Dia de Comando, “quando milhares de soldados a pé e batalhões de carros seguirão para Jerusalém, a um sinal dado pelas famílias dos reféns”.