A coalizão governamental de Israel liderada pelo primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, e pelo partido Likud anunciou nesta quarta-feira (11/10) a formação de um governo de emergência em conjunto com o ex-ministro da Defesa e ex-chefe do Estado-Maior do Exército, Benny Gantz, do Partido da Unidade Nacional, um dos líderes da oposição.
A coalizão foi anunciada em meio à escalada do conflito com o Hamas na Faixa de Gaza. Segundo um comunicado, as partes concordaram em formar um "gabinete de guerra" composto por Netanyahu, Gantz e o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Esse órgão deverá existir enquanto durarem os combates com o Hamas na Faixa de Gaza.
O comunicado diz que "ambos [os lados da política israelense] concordaram com o estabelecimento de um governo de emergência e de um gabinete de gestão de guerra".
Na prática, o acordo facilita que o primeiro-ministro aprove medidas de emergência sem o bloqueio de oposicionistas, já que os partidos governistas não têm maioria no Parlamento israelense, fazendo com que a oposição possa vetar propostas.
Também foi anunciado que o ex-chefe do Exército, Gadi Eizenkot, que é oposicionista, e o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, devem integrar o governo de emergência como observadores, sem direito a voto. Aliados ultraortodoxos e de extrema direita de Netanyahu permanecerão no governo.
Já no sábado, dia do ataque de radicais do Hamas em território israelense, Netanyahu ofereceu a dois políticos da oposição, Jair Lapid, do partido liberal Yesh Atid, e Benny Gantz, a composição em um governo de emergência.
As negociações para a inclusão de Lapid, no entanto, ainda não teriam sido concluídas, e os meios de comunicação locais alertam que isso se deve a desentendimentos com os parceiros de extrema direita da coligação governamental.
Reaproximação de ex-parceiros
Gantz já foi parceiro de governo de Netanyahu no passado, mas disputas internas e a recusa do atual primeiro-ministro em cumprir o acordo de rotação entre os dois – entre 2020 e 2021 – derrubaram a coligação.
Desde então, Gantz manteve-se do lado oposto de Netanyahu e recusou-se a juntar-se ao seu governo em diversas ocasiões.
Em meio à polêmica causada pela reforma no Judiciário promovida pela coalizão governamental chefiada por Netanyahu, Gantz se consolidou como a figura política que reúne o maior apoio popular em quase todas as pesquisas.
De acordo com o comunicado divulgado nesta quarta, Netanyahu concordou em suspender a polêmica reforma – defendida por ele –, que provocou meses de protestos em massa desde janeiro: "Nenhum projeto de lei ou moção patrocinada pelo governo que não esteja relacionado ao conflito será apresentado durante a guerra", afirmou.
O conflito entre Israel e o Hamas, que começou no sábado com um sangrento ataque terrorista surpresa do grupo radical islâmico Hamas, está no seu quinto dia de combates e já matou mais de 1,2 mil pessoas em Israel e pelo menos 1.055 na Faixa de Gaza.
Reforma controversa
No dia 24 de julho, o Parlamento de Israel aprovou um projeto de reforma que restringe os poderes do Judiciário de diversas formas, a exemplo de limitar a capacidade da Suprema Corte para derrubar decisões do governo e do Parlamento e mudar a forma como os juízes são nomeados.
A medida, aprovada por 64 votos a zero no Parlamento que tem 120 assentos, ocorreu após uma sessão conflituosa, na qual os parlamentares da oposição gritaram "vergonha" e depois deixaram o plenário.
A aprovação refletiu a determinação de Netanyahu e de seus aliados de ultradireita em levar adiante o projeto, que testou laços sociais que unem o país, abalou a coesão de suas poderosas Forças Armadas e, repetidamente, atraiu a preocupação de seu aliado mais próximo, os Estados Unidos.
Motivos pessoais também podem ter desempenhado um papel central nessa iniciativa: o próprio Netanyahu responde na Justiça por acusações de corrupção.
gb (EFE, AFP, Reuters)