Israel reforça orientação a civis para que deixem o norte de Gaza

Militares fazem "apelo urgente" a civis para que deixem região "temporariamente" enquanto intensificam investida contra o grupo radical islâmico Hamas. ONU já se opôs ao deslocamento antes.

Por Deutsche Welle

Israel reforça orientação a civis para que deixem o norte de Gaza .
Israel reforça orientação a civis para que deixem o norte de Gaza
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Após a mais intensa noite de bombardeios na Faixa de Gaza desde o início do conflito, e ainda sem previsão de um cessar-fogo enquanto o território palestino vive um "apagão" nos serviços de telefonia e internet, as Forças de Defesa de Israel (IDF) voltaram a reforçar neste sábado (28/10) a orientação "urgente a todos os moradores do norte de Gaza e da Cidade de Gaza" para que deixem "temporariamente" o norte do enclave e se assentem no sul "para sua própria segurança".

"O retorno ao norte de Gaza será possível assim que as hostilidades intensas chegarem ao fim", declarou o porta-voz dos militares israelenses, Daniel Hagari, em um pronunciamento em vídeo publicado no X, antigo Twitter, reforçando ainda que a medida não é "uma simples precaução", mas "um apelo urgente" aos civis palestinos, sugerindo que os bombardeios na região devem se intensificar.

O anúncio vem em meio a sinais públicos de Israel de que continuará sua campanha no território palestino "até que uma nova ordem seja emitida", nas palavras ministro israelense de Defesa, Yoav Gallant.

"Chegamos a uma nova fase na guerra", declarou Gallant, sem deixar claro se a invasão em larga escala por terra de fato começou ou se as tropas devem recuar mais uma vez, como ocorreu nas duas madrugadas anteriores.

Evacuação já foi criticada antes pela ONU, que agora clama por "trégua humanitária"

O pedido de evacuação já havia sido feito cerca de duas semanas atrás, na esteira dos ataques terroristas do grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza e invadiu Israel no início do mês, deixando um rastro de 1,400 mortos e sequestrando outros mais de 200.

Na época, Israel deu à população de 1,1 milhão de civis do norte prazo de 24 horas para se deslocar para o sul, sob protestos das Nações Unidas, que pediram a revogação da ordem por considerá-la impraticável do ponto de vista humanitário em meio à escassez de suprimentos vitais em decorrência do cerco imposto ao enclave.

A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou na sexta, por ampla maioria, uma resolução que pede uma trégua humanitária imediata para garantir a assistência de civis palestinos.

Comunicado recente do Pentágono emitido em nome do Secretário de Defesa Lloyd Austin reforça "a importância de proteger civis" durante as operações da IDF em Gaza e a "urgência" de fazer chegar a eles o apoio humanitário.

No lado palestino, o Ministério da Saúde de Gaza contabiliza mais de 7.000 vítimas, dentre elas 2.913 crianças. Como o órgão é controlado pelo Hamas – assim como tudo no território –, não é possível verificar os dados de forma independente.

Ao contrário das resoluções do Conselho de Segurança – onde quatro tentativas anteriores de abordar o conflito falharam –, os textos aprovados pela Assembleia Geral não têm caráter vinculativo, mas têm peso político, refletindo a opinião global à medida que Israel intensifica as operações em Gaza.

Civis palestinos estariam sendo usados como escudo humano pelo Hamas, que se esconde em rede de túneis

Israel, porém, justifica suas ações militares como necessárias afirmando que o Hamas se esconde atrás de infraestrutura civil, como escolas e hospitais. Também acusa o grupo de desviar apoio humanitário à região em benefício próprio, razão pela qual bloqueia o abastecimento de combustível.

Na sexta, a IDF anunciou que o Hamas manteria um quartel-general no subterrâneo do maior hospital de Gaza, o Al-Shifa.

Acredita-se que o grupo radical islâmico possua uma extensa rede de túneis, com aproximadamente 500 quilômetros, alguns a 70 metros de profundidade, usados no contrabando e em operações militares contra Israel.

O bombardeio mais intenso de Gaza nestas últimas três semanas tem como objetivo destruir justamente essa infraestrutura de túneis e bunkers. A investida na noite de sexta para o sábado mobilizou, segundo a IDF, 100 aviões e atingiu 150 alvos subterrâneos – enquanto isso, veículos israelenses noticiam que Israel continua a interceptar foguetes vindos da faixa, mas também do Líbano.

Ainda segundo a inteligência israelense, o Hamas estaria sabotando o deslocamento de civis, pressionando-os ou expondo-os a riscos advindos da própria artilharia, que tem altos índices de falha.

Temores sobre agravamento de situação humanitária de civis e expansão do conflito

Parte da comunidade internacional teme que o conflito no Oriente Médio saia do controle – as tensões militares têm escalado nas fronteiras de Israel com Líbano e Síria.

Sitiada, Gaza sofre um "apagão" nos serviços de telefonia e internet, e informações da região escassearam ao ponto de deixar organizações humanitárias e redações sem contato com suas equipes.

"O apagão está impossibilitando ambulâncias de chegarem até os feridos. Continuamos sem contato com nossas equipes e instalações de saúde. Estou preocupado com a segurança deles", escreveu no X, antigo Twitter, o presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus.

"Um apagão nas comunicações é um apagão de notícias", comentou o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), advertindo sobre os riscos de um vácuo informacional que pode ser preenchido com "propaganda mortal e informações falsas".

O bilionário Elon Musk prometeu ajuda a "organizações humanitárias em Gaza internacionalmente reconhecidas" por meio de sua empresa Spacex, a fim de contornar o apagão por serviços de satélite.

Apreensivos com o desenrolar do conflito, parentes dos sequestrados pelo Hamas receiam que uma invasão inviabilize as negociações para a libertação deles – o grupo islâmico ameaça matá-los, e alega, sem fornecer provas, que 50 já foram mortos em bombardeios israelenses.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se reuniu neste sábado com as famílias dos reféns em Tel Aviv.

ra (ots)

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