Itália abandona megaprojeto de infraestrutura da China

Iniciativa chamada de "Nova Rota da Seda" é vista como tentativa chinesa de ampliar influência ao redor do globo. Críticos denunciam prejuízos aos países mais pobres e interferências em políticas locais.

Por Deutsche Welle

A Itália decidiu se retirar da iniciativa chinesa de investimentos globais em infraestrutura conhecida como Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative). A decisão veio quatro anos após Roma assinar o acordo com Pequim.

Segundo relatos publicados nesta quarta-feira (06/12) em diversos veículos da imprensa italiana, a decisão foi comunicada a Pequim há três dias de maneira discreta, sem que houvesse um anúncio oficial. De acordo com a agência de notícias AFP, o objetivo de toda essa discrição seria "manter abertos os canais de diálogo político".

A iniciativa chinesa é vista por muitos como uma tentativa de Pequim de comprar influência política nos países que a ela aderirem. Para Roma, porém, os benefícios econômicos do acordo estavam aquém do esperado.

O pacto com Pequim foi assinado em 2019 pelo então primeiro-ministro Giuseppe Conte. A falta de transparência nos termos do acordo gerou desconfiança nos parceiros europeus. A participação italiana seria renovada automaticamente em março de 2024, a não ser que o país informasse antes do final deste ano sua decisão de deixar a iniciativa.

O governo da primeira-ministra ultradireitista Giorgia Meloni, que se opunha ao acordo, temia que a saída fosse vista pelos chineses como uma provocação, e que isso pudesse resultar em retaliações contra empresas italianas.

Nesta quarta-feira, o ministro italiano do Exterior, Antonio Tajani, disse apenas que a Itália procura "relançar a parceria estratégica" com a China, sem, no entanto, confirmar a saída do pacto.

A notícia estourou na imprensa italiana pouco antes do início de uma reunião de alto nível entre a China e a União Europeia, a primeira desde 2019, onde serão discutidas questões de comércio.

Expansão da influência global da China

A China afirma que mais de 150 países – do Uruguai ao Sri Lanka – já aderiram à iniciativa, que é uma prioridade do governo do presidente Xi Jinping para expandir a influência chinesa até outras partes do globo.

Pequim diz ter firmado mais de dois trilhões de dólares (R$ 9,8 trilhões) em contratos ao redor do mundo, que vão desde ferrovias de alta velocidade no Sudeste Asiático a projetos de grande porte em energia, transportes e infraestrutura através da Ásia Central.

Os defensores da Nova Rota da Seda exaltam o fato de a iniciativa trazer recursos e crescimento econômico ao Sul Global, enquanto seus críticos denunciam que o acordo deixa os países mais pobres atolados em enormes dívidas.

Muitos, principalmente no Ocidente, se preocupam com uma suposta tentativa chinesa de reestruturar a seu modo a ordem mundial de modo a obter vantagens geopolíticas. Vozes de oposição nos países que integram a iniciativa denunciam manobras da China para exercer maior influência na política local.

Os Estados Unidos já alertaram que a China poderá utilizar a iniciativa como pretexto para construir bases militares ao redor do globo, sob o argumento de agir em defesa de seus investimentos.

rc (AFP, DPA)

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