Automedicação contra insônia pode causar dependência grave: 'Perdi o controle'

Caso usados de forma indiscriminada, Zolpidem e outros medicamentos do tipo podem mascarar problemas graves e até agravar a falta de sono

Por Sérgio Gabriel

Pelo menos 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia, segundo a Associação Brasileira do Sono. A condição, caracterizada pela dificuldade de dormir ou não conseguir retomar o sono ao acordar de madrugada, faz muitos procurarem por tratamentos rápidos. Mas a automedicação é um perigo, principalmente pela falta de acompanhamento. 

Nos últimos anos, milhares de pessoas passaram a se autodiagnosticar e se medicar. Dalva Poyares, neurologista especializada em medicina do sono, explica que houve um aumento nas vendas de medicamentos do tipo. “O aumento da venda foi impressionante. Houve um aumento significativo nos últimos anos, com o aumento de pessoas com dependência e abuso”, explica. 

Entre os medicamentos hipnóticos de ação rápida, está o Zolpidem. O remédio serve para induzir o sono e, segundo a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a venda do medicamento cresceu 71%. A indicação de uso é por no máximo quatro semanas. Mas, na prática, não é assim que acontece. 

Maria Puppi Bernardi, que é psiquiatra, também notou o aumento do uso do medicamento. “A gente vê que isso está aumentando cada vez mais e sim, tem comum com o Orientação Médica, a gente fazia a substituição, fazer a retirada e conseguir tratar aquilo que levou a um uso indiscriminado das medicações”, pontua. 

"Perdi o controle do Zolpidem"

Uma paciente que não quer se identificar contou ao Jornal da Band que começou a tomar Zolpidem e perdeu o controle, por não ter orientação médica. “Comecei a tomar um, não fazia mais efeito, aí dois e foi indo. Comecei a tomar três e perdi o controle”, conta. 

“Assim eu nem sabia. Eu acordava, às vezes eu nem sabia que eu tinha tomado três caixas e aí já não estava fazendo mais sentido para nada e eu não conseguia. Eu tinha vergonha de pedir ajuda, tinha vergonha de qualquer coisa”, relembra. 

A paciente tinha sintomas de depressão e ansiedade, mas não havia sido diagnosticada. O remédio foi uma forma de fugir dos sintomas, como tristeza e insônia. “Eu tomava caixas e caixas para ver se voltava aquela coisa que dava antes”, afirma. A mulher ficou dois anos e meio como um zumbi, perdendo amigos, eventos familiares e até a vontade de viver. 

Ela teve de ser internada em uma clínica de reabilitação. “Tentei tirar o medicamento de uma vez, mas aí tive convulsões, problemas, foi muito rápido. Como eu tomava muito, eu fiz um desmame e eles me deram um pouco. Aí quando eu consegui alinhar, fazer tudo certo, eu fiquei melhor, mas quando eu tirei de uma vez eu comecei a ter convulsão”, relembra. 

Para quem está na mesma situação, a mulher que não quis se identificar dá um conselho e afirma que é preciso pedir ajuda. “O recomeço merece ser ajudado. A gente precisa pedir ajuda, ‘baixar a bola’, às vezes, falar realmente é isso que eu preciso. E é um alerta mais para entender que é muito perigoso”, diz. 

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