Na condição de testemunha, o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, confirmou à Polícia Federal (PF) o que havia dito Carlos Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou uma reunião com os chefes militares para discutir uma minuta considerada golpista por investigadores.
A informação foi também foi levada às autoridades pelo tenente-coronel Mauro Cid e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, na delação premiada. O único a não abordar o tema foi o almirante Garnier, ex-comandante da Marinha, que teria dado apoio ao plano.
Antes de prestar o depoimento na última sexta-feira (1º), Freire Gomes procurou o atual comandante do Exército, Tomás Paiva, para adiantar o que diria à PF.
Fontes próximas a Freire Gomes confirmam que ele afirmou à PF que não denunciou as intenções golpistas de Bolsonaro porque as consequências poderiam ser piores. Como exemplo, ser destituído e substituído por alguém disposto a uma tentativa de golpe. Além disso, o ex-comandante não teria como provar o que era dito nos encontros com o então presidente.
Tentativa de golpe seria em 8 de janeiro
Para os investigadores, está claro que Bolsonaro acreditava na possibilidade de reverter o resultado das urnas. A tentativa final teria sido em 8 de janeiro de 2023, com o quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, o que só aconteceu porque o acampamento na porta do Quartel-General do Exército, em Brasília, não foi desmobilizado, por ondem do ex-presidente, segundo Freire Gomes.
Bolsonaro nega as acusações. A defesa do ex-presidente alega que não teve ainda acesso a todo o material da investigação.
“Roteiro do golpe” escrito à mão
No mesmo inquérito, é analisada uma agenda com anotações feitas à mão pelo general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Segundo imagens divulgadas pela revista Veja, Heleno rascunhou uma espécie de roteiro que incluía Ministério da Justiça, Advocacia Geral da União e Presidência da República para impedir que a polícia cumprisse determinadas decisões de juízes, prevendo até prisão de delegados.
A PF espera encaminhar as conclusões da investigação à Procuradoria Geral da República (PGR) até o fim de junho.
O que diz Barroso
Em um evento na PUC, em São Paulo, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, disse que os militares foram manipulados no governo anterior.
“Fizeram um papelão no TSE, convidados para ajudarem na segurança e para dar transparência foram induzidos por uma má liderança a ficarem levantando suspeitas falsas, quando a lealdade é um valor que se ensina nas Forças Armadas”, pontuou Barroso.