A ButanVac promete ser mais barata do que as vacinas concorrentes que já estão no mercado.
Na fábrica do Butantan, em São Paulo, os cientistas brasileiros conseguiram dar um passo adiante na luta contra o coronavírus. É de onde sairá a primeira vacina 100% brasileira, com matéria-prima nacional e sem a necessidade de importação do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo).
O instituto Butantan vai utilizar o cultivo de cepas em ovos de galinha, o que gera doses de vacinas inativadas, feitas com fragmentos de vírus mortos. A tecnologia é inédita para a prevenção ao coronavírus, mas é mesma já disponível na fábrica do Butantã de vacinas contra a gripe.
A ButanVac utiliza a tecnologia do vetor viral. Os cientistas retiram a proteína “Spike” do coronavírus e a inserem em outro vírus, que é inofensivo. Depois dessa modificação, ele será introduzido em ovos de galinha, onde vai se multiplicar. Quando entra no nosso corpo, o sistema imunológico identifica o vírus e produz uma resposta contra a Covid-19.
A técnica é semelhante a imunizantes em uso, como da farmacêutica AstraZeneca, a russa Sputnik e a vacina da Janssen.
“Essa parte do vetor viral, basicamente o que acontece, repetindo, como usa a Johnson & Johnson, Oxford e a Sputnik V, é um vírus que causa um resfriado. Esse vírus, para gente, é tranquilo para a gente manusear ele. Por exemplo, colocando um pedaço do coronavírus, ele vai ser um carregador. Por isso se chama vetor viral. Ele vai carregar um pedaço do coronavírus para dentro da nossa célula e produzir a proteína do coronavírus. Consequentemente, o sistema imunológico vai reconhecer como estranho e vai desenvolver resposta imunológica", explica Gustavo Cabral de Miranda, imunologista e pesquisador da universidade de São Paulo.
Para o Brasil, é a garantia de uma vacina mais barata e com tecnologia de fácil produção.
“É muito mais barato esse tipo de produção do que essas vacinas que são produzidas em tecnologias mais modernas, porque essa é uma tecnologia tradicional e um outro aspecto é seguro. A vacina da gripe a vacina que é mais utilizada no mundo, 80 milhões de pessoas todos os anos estão sendo vacinadas aqui no Brasil. Ou seja, perfil de segurança é excelente”, justifica Dimas Covas, diretor do Instituto.
Segundo o Butantan, os resultados em animais foram promissores, sobretudo em comparação com outras vacinas já conhecidas. Mas serão as duas fases de testes que vão confirmar a eficácia da ButanVac. O prazo para concluir os estudos é curto: três meses.
O Butantan diz que a dose única é uma possibilidade, mas só os ensaios clínicos poderão confirmar a resposta imunológica dos voluntários e qual será o melhor intervalo e quantidade de aplicações para a ButanVac.
Se a vacina brasileira for aprovada pela Anvisa, o Instituto pretende começar a vacinação a partir de julho. Serão 40 milhões de doses à população em geral até o final deste ano, segundo o Butantan.
Polêmica com hospital dos EUA
No fim da tarde desta sexta, uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou que o hospital Mount Sinai, dos Estados Unidos, alegou ter desenvolvido a vacina anunciada pelo Butantan.
Em nota, o Instituto disse que tem licença de uso e exploração de parte da tecnologia desenvolvida pela instituição americana para acelerar o desenvolvimento de vacinas. Mas que técnicas como multiplicação do vírus, condições de cultivo, ingredientes, adaptação aos ovos, conservação, purificação, inativação do vírus, escalonamento de doses, estudos clínicos e regulatórios e registro são do Butantan e garantiu: “A ButanVac é brasileira”
Leia o comunicado na íntegra:
O Instituto Butantan esclarece que a produção da ButanVac, primeira vacina brasileira contra o novo coronavírus, será 100% nacional, conforme anunciado na manhã desta sexta-feira, 26/3, em coletiva de imprensa.
Para isso, firmou parceria e tem a licença de uso e exploração de parte da tecnologia, que foi desenvolvida pela Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai de Nova Iorque, para obter o vírus. O uso dessa tecnologia é livre do pagamento de royalties (royalty free) e pode ser feito por qualquer instituição de pesquisa em qualquer parte do mundo. Isso foi adotado para essa tecnologia com o objetivo de acelerar o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus.
Contudo, não se tem uma vacina apenas com essa tecnologia de obtenção do vírus. Nesse ponto começa o desenvolvimento da vacina completamente com tecnologia do Butantan. Entre as etapas feitas totalmente por técnicas desenvolvidas pelo instituto paulista, estão a multiplicação do vírus, condições de cultivo, ingredientes, adaptação aos ovos, conservação, purificação, inativação do vírus, escalonamento de doses, estudos clínicos e regulatórios, além do registro.
É importante ressaltar que a ButanVac é e será desenvolvida integralmente no país, e o consórcio internacional tem um papel importantíssimo na concepção da tecnologia e no suporte técnico para o desenvolvimento do imunobiológico, algo imprescindível para uma vacina segura e eficaz.
No Brasil, o desenvolvedor da vacina é o Instituto Butantan. A vacina, portanto, é brasileira e dos brasileiros. A matéria publicada pela Folha de S. Paulo traz um comunicado não oficial de um pesquisador da instituição norte-americana. A instituição não autorizou a divulgação de seu nome em comunicados oficiais do Butantan sobre a nova vacina.
Comunicados conjuntos serão feitos pelos integrantes do consórcio no momento oportuno, incluindo a instituição citada pela Folha.
A vacina é do consórcio. A ButanVac é brasileira.