Acesso à informação sobre autismo rompe preconceitos na conquista de espaços

Pesquisa aponta que em 2004, era uma criança autista a cada 166; atualmente há uma com autismo a cada 36

Por Olívia Freitas

Em um mundo acostumado a padrões, eles são a própria diversidade. São um universo de possibilidades acerca do ser humano. Essas são características das pessoas com o Transtorno do Espectro Autista, o TEA, que para famílias, geram um novo universo repleto de desafios, onde é preciso saber entrar para compreender. 

Foi o que ocorreu com os pais da pequena Manuela, que aos oito anos, ainda não fala. As suspeitas sobre um possível transtorno começaram aos dois e, depois, veio o diagnóstico: autismo. 

"A Manu, às vezes eu olho ela assim, às vezes eu tenho vontade de chorar, porque às vezes ela olha assim fixa o olhar para mim é como se ela tivesse fazendo uma leitura de quem eu sou para ela — está querendo me falar e ela está me falando”, diz Luiz Batista, pai de Manuela. 

Aline, mãe da pequena, conta que a primeira coisa que passou pela cabeça dela ao saber do diagnóstico foi desespero. “Eu ouvia falar do autismo, mas eram aquelas pessoas que não saíam de casa, não tinham vida. Eu não sabia nada de autismo”, relembra. 

E quantas pessoas não se veem nesse mesmo lugar, ao ter a vida atravessada pelo diagnóstico? Mas olha, muito vem mudando, principalmente pelo aumento nos diagnósticos e no maior conhecimento sobre o TEA. 

Segundo o Departamento de Saúde dos Estados Unidos, diagnósticos de autismo aumentaram nos últimos 20 anos. Em 2004, estudos estimavam que em um grupo de 166 crianças, uma era autista. Agora, em 2024, o número mudou: a cada 36 crianças, uma é autista. 

Aumento de diagnósticos

Para José Salomão Schwarzman, neuropediatra e pesquisador sobre o transtorno do espectro autista, o aumento nos casos se dá por diversas razões. Uma delas é o aumento no conhecimento sobre o assunto. “O que aconteceu? É uma epidemia? Hoje fazem tantos diagnósticos por várias razões. Uma delas é o conhecimento”, explica. 

“Quanto mais você conhece, tem mais casos, as pessoas conhecem mais, identificam mais frequentemente”, explica o neuropediatra. 

O médico explica que o autismo não tem características tão claras. “Não é possível dizer como é o autista, só dizer que existem indivíduos que preenchem certos critérios, mas que são tão diferentes um do outro, quanto eu sou de outra pessoa”, avalia. 

Por isso, o autismo tem três níveis atualmente, o 1, 2 e 3. No ‘3’, estão os autistas que precisam de muito suporte. em alguns casos, até para comer e tomar banho. No nível 1, o suporte é menor, ou seja, quem está do seu lado talvez seja autista e você nem imagine.

Pessoas com autismo conquistam mais espaços

Apesar dos estigmas que o autismo traz, as pessoas com o diagnóstico conquistam cada vez mais direitos e espaços. Um exemplo é nas partidas de futebol do Corinthians, onde, no meio de tanta gente, uma turma chama a atenção: os Austistas Alvinegros. Eles formam a primeira torcida de autistas do Brasil. 

Augusto, de 13 anos, é um dos participantes da torcida e se sente feliz por poder ver o time do coração. “Me sinto animado para ver o jogo aqui, é uma coisa que eu sempre quis fazer em toda minha vida”, celebra. 

Rafael Lopes, fundador da torcida, foi diagnosticado apenas com 33 anos. “Tenho um sobrinho autista diagnosticado desde cedo. Comecei a estudar sobre autismo para entender ele e comecei a me identificar nos sinais”, conta. 

Quais são os principais sinais do autismo?

Os sintomas aparecem cedo. Entre os mais comuns, atraso na fala ou dificuldades na comunicação de uma maneira geral, movimentos repetitivos, interesses restritos, pouca interação. 

Alerta sobre o TEA pode vir da escola

Heloísa Sousa, mãe do pequeno Henrique, de sete anos, recebeu o primeiro alerta sobre o autismo do filho na época da creche. “Foi uma surpresa, a creche que identificou, percebeu e pediu para eu buscar ajuda. Ele não olhava nos olhos, colocava a mão nos ouvidos, que não queria ficar com as crianças”, conta. 

Atualmente, Heloísa atravessa São Paulo para que o filho, que ainda não fala, receba tratamento e, com ele, há a esperança dele se desenvolver. “É importante, uma luta, um baque quando descobrimos, mas a gente tem que correr atrás. Porque é isso, a terapia vai desenvolver ele”, diz. 

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