Jornal da Band

Conjuração Baiana: blocos afros reforçam importância da revolta contra Portugal

Entre os grupos artísticos, o Olodum é um dos blocos que compõem músicas que ajudam a manter viva a história de Salvador em 1798

Da redação

Arte a serviço da história. Como a música tenta manter viva a memória dos heróis de Salvador no período da Conjuração Baiana, revolta separatista iniciada em Salvador contra Portugal em 1798? Hoje, na Praça da Piedade, Centro Histórico soteropolitano, encontram-se quatro bustos: dois soldados e dois alfaiates, todos negros e pobres.

Os quatro foram enforcados por participação na Conjuração Baiana. Os bustos foram colocados na praça em 2014. Muitas pessoas que cruzam o local, diariamente, em Salvador, não reparam nos monumentos. Teve gente que disse à reportagem da Band que nunca teve interesse em saber quem são as figuras históricas.

A homenagem foi um passo importante para dar visibilidade à revolta. Pouco se falava da importância do movimento no processo de independência do Brasil. Esta é mais uma reportagem do Jornal da Band da série especial dos 200 anos da Independência do Brasil.

“A revolta só foi negada por ela incomoda, ainda hoje, o poder na Bahia e no Brasil. Qualquer brasileiro deveria se orgulhar disso. A França se orgulha da queda da Bastilha, a derrotada do poder imperial. Os Estados Unidos se orgulham da independência do 4 de Julho. A Bahia e o Brasil ainda não se orgulham o suficiente de 1798, a mãe da independência do Brasil”, comentou João Jorge, presidente do Olodum.

Conscientização nas salas de aula

Nos últimos anos, isso também começou a mudar dentro da sala de aula. O professor Flávio Sacramento ensina história aos estudantes do ensino médio da rede pública. Como missão, ele assumiu dar importância devida à Conjuração Baiana.

“É uma missão minha e de vários outros professores, que estão tentando buscar e trazer a história de Salvador para a sala de aula. A gente jamais pode conhecer o outro sem se conhecer. Como a gente pode saber da Revolução Francesa se a gente não sabe a Conjuração Baiana?”, questionou Sacramento.

Blocos afros mantêm história viva

Apesar da iniciativa das escolas, são dos blocos afros de Salvador que veio um trabalho mais efetivo para recuperar a história. O Olodum é um deles, que compõe músicas que tratam da Conjuração Baiana, também conhecida como “Revolta dos Búzios”.

“Você sabe que a música, na Bahia, principalmente a música afro, tem um mecanismo muito grande de sensibilizar as pessoas”, explicou Zulu Araújo, presidente da Fundação Pedro Calmon.

O Olodum também produziu cadernos que foram distribuídos nas escolas de Salvador. João Jorge destacou que o bloco transformou o tema em rede de Carnaval, festival de música, cartilhas e valorizaram os heróis assassinados.

Conjuração na música e capoeira

Tonho Materia, um músico e capoeirista que passou pelo Olodum, combinou duas paixões para disseminar o conhecimento a respeito da Conjuração Baiana: música e capoeira.

“Você precisa saber da sua história. De onde eu vim? Quem eu sou? A gente diz que a capoeira é a defesa e ataque. Quais foram os homens e mulheres que lutaram para que, hoje, nós possamos estar aqui, difundindo a capoeira?”, pontuou Tonho Matéria.

Revolta implantou ideias modernas de democracia

A historiadora Heloisa Starling vê a Conjuração Baiana como a pioneira no que diz respeito às ideias de democracia moderna no Brasil. A revolta também adotou premissas que incorporariam a cidadania à população negra.

“A ideia moderna da democracia, o modo como nos reconhecemos todos iguais, a força disso pela primeira vez entre nós vem da Conjuração Baiana. A questão de que é preciso incorporar a população negra à cidadania também é obra da Conjuração Baiana”, explicou Starling.

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