Em Salvador, já estão vendendo acarajé até com doce de leite. A quebra dessa e de outras tradições está rendendo polemica na capital baiana.
O acarajé da irmã Nalvinha segue a receita secular. Mas essas baianas não trabalham com a roupa tradicional do ofício por motivos religiosos.
“A dona não permite pelo fato de ela ser cristã”, explica Amanda Pereira.
Do outro lado da avenida, a baiana Sofia Vidal, que segue todas as tradições, se sente desrespeitada pelas colegas.
“Tem que trabalhar com fardamento”, atestou.
O acarajé é um símbolo da cultura afro há mais de 300 anos, sendo inclusive oferecido a orixás do candomblé. Por isso, mudanças causam polêmica. Não só na roupa usada para vender o quitute, mas também na forma de preparar. Tem gente fazendo até acarajé com doce de leite.
“Tem município que bota catchup, maionese. Inaceitável. Dê o nome que quiser, não chamem de acarajé”, protesta a estudante Franciane Moreira.
“A baiana que não quer se vestir de baiana não é identificada como uma baiana de acarajé. É identificada como uma vendedora”, opina Rita Santos, coordenadora da Associação Nacional das Baianas de Acarajé.
O ofício das baianas de acarajé é considerado patrimônio cultural do Brasil desde 2005. Mas, nesse momento, o título está na fase de reavaliação para ser renovado.
“Não existe esse risco. As baianas que fazem isso de forma tradicional elas continuam existindo. E para gente, é isso o que importa”, afirma Marina Lacerda, coordenadora do Iphan.