Quando o assunto é dependência química, muitos se perguntam por qual razão nem todo mundo consegue se tratar. Outra pergunta é: por que há pacientes que desistem do tratamento na recaída e há os que insistem no tratamento?
Ricardo Amaral, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP, afirma que a situação vai além da dependência. “Não é só a droga, a droga tem o seu interesse. Nem todas as pessoas que estão lá tem nível de dependência grave, algumas pessoas sim. Há pessoas lá na Cracolândia com situações sociais muito mais complexas do que propriamente a situação relacionada à substância”, afirma o psiquiatra.
No entorno da Cracolândia, a equipe do Jornal da Band conheceu Anderson Araújo, que passou por 13 internações até conseguir se livrar de vez do crack e hoje ajuda outros dependentes químicos. “É muito difícil, às vezes eu entrava num quarto de hotel com uma quantidade de droga e usava ela chorando, querendo ir embora, pagar, mas não conseguia, não conseguia parar de usar. Eu pedia para Deus me ajudar, me tirar daqui”, relembra.
Anderson relembra que foi resgatado por uma ONG que faz ações na Cracolândia, para auxiliar dependentes químicos. “Depois de tantas vezes, a assistente falou que quando eu mudasse de ideia e quisesse me internar, mudar minha vida, eu procuraria eles que iriam me ajudar. Ela disse: ‘coloca na sua cabeça que está tudo aí dentro, você que manda’. Essa frase mudou minha vida”, diz.
Atualmente na mesma ação que o resgatou, Anderson além de atender dependentes químicos, dá o testemunho dele sobre os 18 anos que passou em situação de rua e os 27 anos dependente de crack. Anderson atualmente está limpo, desde março de 2019.
Edson Dendevits também trata a dependência química, mas não de crack e sim, do álcool. Ele, que foi encontrado pela equipe do Jornal da Band na Cracolândia, procurou tratamento e atualmente se prepara para retomar a vida de antes.
“Eu não usei crack porque tive um irmão que faleceu por essa droga maldita. Mas a bebida é mais difícil de se livrar, você chega em qualquer esquina e tem uma garrafa de 51, na adega da esquina tem um corote para comprar”, relembra Edson.
Deixar o vício não é tarefa fácil, já que a dependência química é uma doença crônica, mas que tem controle. “Tem tratamento. É um desafio para a medicina, admitir que pouco é curado, o que a gente consegue fazer é criar um contexto em que a pessoa veja melhor a saúde dela, entender os riscos, os fatores até que ela entenda qual é a melhor escolha”, diz o psiquiatra Ricardo Amaral.