Jornal da Band

"Dia do Fico" completa 200 anos

A independência não se resume apenas em um ato. Vários movimentos já clamavam por mudanças

Por Giba Smaniotto

A independência não se resume apenas em um ato. Vários movimentos já clamavam por mudanças. Tivemos a Conjuração do Rio de Janeiro (1784), a Conjuração Baiana (1798), em Pernambuco teve a Revolução de 1817, e a Conjuração Mineira, em Minas Gerais (1789).

“A independência no Brasil teve muito sangue derramado. Ela não foi nada pacifica”, afirma a historiadora Heloisa Starling sobre os conflitos que aconteceram durante o período. 

Em 1808, Dom João VI, príncipe regente de Portugal desembarcou no Brasil. Ele fugiu da invasão das tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte. Com ele vieram a mãe, Dona Maria, a mulher Carlota Joaquina e os filhos pequenos. Dom Pedro I tinha nove anos. Sem contar vários ministros e empregados. Estima-se algo em torno de 15 mil pessoas.

26 de abril de 1821: Pouco mais de dez anos depois a população portuguesa exigiu a volta da família real para Portugal. Contra a vontade, Dom João embarcou, mas deixou por aqui um governo provisório comandado pelo filho, Dom Pedro I.

“Com a volta de Dom João, por causa da Rebelião Liberal do Porto, começa a pressão dos portugueses para que Dom Pedro voltasse também. O nome da rebelião, eu sempre brinco que era liberal para Portugal para o Brasil não era nada liberal. Qual era a intenção dos líderes portugueses? Era fazer com que não restasse nada da realidade do reino unido de Brasil e Algarve, por isso eles precisavam que o filho voltasse também. A desculpa é que ele tinha que completar os estudos e coisas assim”, conta a historiadora Lilia Schwarcz.

Só que Dom Pedro I bateu o pé e não acatou as ordens da corte. O momento ficou conhecido como o Dia do Fico. Foi no Rio de Janeiro na janela do Paço Real que Dom Pedro I foi aclamado. Pesou muito nessa decisão as oito mil assinaturas de diferentes setores da elite. Todos pedindo para ele não deixar o Brasil. Para muitos, o momento mais importante do processo da independência. 

Sete meses depois, Dom Pedro I começava o trajeto que traçaria seu destino político. Ele saiu da Quinta da Boa Vista, residência da família imperial, acompanhado de sua guarda rumo a São Paulo. Foram cinco dias de mula e a cavalo até a comitiva chegar no momento que muda a história: a Independência do Brasil. 

A decisão para o grito do Ipiranga, no entanto, só surgiu quando D. Pedro I foi informado que a Corte Portuguesa tinha anulado todos os atos de seu governo e removido o que ele ainda tinha de poder. Restou se libertar. 

“Dom João levou muito dinheiro quando foi embora do Brasil e em 1825 para que Portugal reconhecesse a nossa independência nós tivemos que pagar para Portugal mais ou menos dois milhões de libras esterlinas e como nós não tínhamos esse dinheiro fizemos um empréstimo com a Inglaterra. Pagamos para ser independentes”, explica a historiadora Heloisa Starling.

“No meio de um continente norte americano, cuja vocação era república, a independência do Brasil colocou na chefia do estado um imperador então foi uma independência que causou muito estranhamento”, conta a historiadora Lilia Schwarcz.

“As pessoas mais esclarecidas, a maioria queria, a classe dominante queria, os letrados, eles queriam uma independência, tentando colocar o país nas linhas, nos trilhos do trem do progresso que vem desde o século XVIII da Inglaterra com a revolução industrial. Você tem aí a figura do santista José Bonifácio de Andrada e Silva, uma figura exemplar, que vai ser importantíssima para o processo de independência do país”, conta o historiador Wesley Espinosa. 

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