O decreto para a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em portos e aeroportos de São Paulo e do Rio começa a valer na próxima segunda-feira (6). Por outro lado, a pergunta que muitos, talvez, façam é: como a ação das Forças Armadas pode ajudar na segurança pública? Uma reportagem do Jornal da Band explica.
Da sala de comando, a Guarda Portuária no Rio monitora o embarque e desembarque dos containers. São 260 agentes que se revezam em turnos, nos quatro portos do estado, na tentativa de combaterem uma das principais rotas do tráfico de armas e drogas.
Em São Paulo, não é diferente. O crime organizado se infiltra no Porto de Santos e manda toneladas de cocaína, principalmente para a Europa. Os dois terminais estão entre os escolhidos para receber o patrulhamento das Forças Armadas. O governo federal resistia à ideia por não querer envolver os militares em operações policiais do Rio de Janeiro.
Ligação de policiais com o crime
Por outro lado, a escalada da violência urbana e os casos que escancararam o envolvimento de policiais com o crime organizado motivaram a decisão.
“O grande desafio que a segurança do Rio tem é justamente o problema da ligação dos policiais com as áreas de milícias e também com o tráfico de drogas. O índice de corrupção é histórico nas polícias do Rio de Janeiro, e isso acabou abrindo espaço para o crescimento dessas facções”, considerou José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
O governo federal decidiu utilizar os militares apenas em locais que são de responsabilidade da União: portos e aeroportos, do Rio de janeiro e de São Paulo, onde os 3.700 homens terão poder de polícia.
Poder de polícia a militares
Isso significa que um militar da Aeronáutica poderá revistar um passageiro no aeroporto, por exemplo, enquanto um fuzileiro naval poderá fiscalizar uma carga no porto.
“Todos os containers que desembarcam no Porto do Rio ou no terminal de containers, em Itajaí, passam por uma fiscalização de raio-x, são vistoriados, mas isso não garante, necessariamente, 100% de efetividade. É uma operação [da GLO] pontual, mas que pode ser um marco para outro nível de segurança nos portos estratégicos do Brasil”, explicou Francisco Martins, presidente da Portos Rio.
O ex-secretário Nacional de Segurança Pública acredita que a medida do governo federal não deve ajudar, diretamente, no combate ao crime organizado.
“Imaginar o pessoal da Aeronáutica, que é todo preparado para dirigir aviões de combate, ficar revistando mala em aeroporto. Não vejo sentido nisso. Nos aeroportos, nós temos a Polícia Federal, a Receita Federal, temos a estrutura de administração dos aeroportos, que já estão fazendo esse trabalho e precisava reforçar”, continuou José Vicente.
“Tirar cargas das polícias”
Paulo Storani, ex-subcomandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), acredita que a intervenção pode ter efeito positivo, principalmente no Rio de Janeiro.
“Então, uma GLO mais ampla poderia, sim, auxiliar durante um período de tempo, principalmente nessas áreas que estão fugindo do controle por conta desse ânimo da criminalidade. Isso iria tirar a carga sobre as instituições policiais, principalmente a PM, permitindo que ela pudesse promover operações no interior das comunidades dominadas por essas facções”, analisou Storani.