Foram necessários quase 30 anos para que Rubens Ricupero pudesse acertar as contas com o passado. Isso porque o então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco teve uma conversa informal exposta em transmissão ao vivo, sem saber que estava no ar, o que culminou na demissão na queda dele da pasta.
“Aquelas imagens, até hoje, eu não gosto de ver, porque ninguém gosta de ser ridículo, que é a forma como eu me vejo nesse momento em que eu não me reconheço”, disse Ricupero em entrevista ao Jornal da Band.
As imagens que atormentaram Ricupero foram captadas por antenas parabólicas. Na conversa transmitida, falava sobre estratégias para segurar a inflação. No momento em que um técnico entra em frente a câmera, o então ministro disse duas frases que entraram para história.
“Eu não tenho escrúpulo. O que é bom a gente fatura. O que é ruim a gente esconde (fala histórica de Ricupero, em 1994)
Demissão de Ricupero
Não adiantaram as justificativas de que as declarações foram tiradas de contexto. Ricupero nunca mais ocupou cargos públicos no governo. Teve que pedir demissão e foi substituído por Ciro Gomes. O caso ficou conhecido como “escândalo das parabólicas”.
“Eram bobagens. Coisas assim de vaidade, me atribuindo, assim, um papel excessivo. Aquilo foi um endeusamento que me subiu à cabeça. Eu não estava acostumado com isso”, comentou o ex-ministro.
Hoje, Ricupero ele se sente à vontade para falar do episódio que derrubou o porta-voz da nova moeda e peça-chave do plano econômico. Aliados reconhecem a importância do ex-ministro durante a implantação do Plano Real.
“Foi muito importante a capacidade de comunicação dele para explicar o que era aquilo, o que era o Plano Real (Elena Landau, ex-diretora do BNDES)
Real resistiu
Na época, o real tinha sido lançado há apenas dois meses e precisava da confiança da população para dar certo. Apesar das turbulências causadas pela declaração de Ricupero, a nova moeda resistiu, devido à solidez do trabalho de inúmeros especialistas, inclusive do ex-ministro.
O episódio da parabólica foi usado na campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na corrida presidencial daquele ano.
Plano Real é marco econômico
Apesar de tudo, o real superou as críticas e foi fundamental para levar FHC ao Palácio do Planalto, eleito e reeleito presidente da República. A nova moeda derrubou a inflação. A população sentiu no bolso que, dessa vez, o plano de estabilização econômica daria certo.
O sinal da força do real é uma pesquisa recente que aponta que 71% da população diz que o plano continua importante, pois lançou as bases para uma economia mais estável e sólida. A medida de 30 anos atrás disputa com o Bolsa Família o primeiro lugar de programa econômico mais importante das últimas décadas.
“As pessoas passaram a entender o mal que a inflação faz no poder de compra, na questão da desigualdade. Você não poderia ter feito o Bolsa Escola, o Bolsa Família sem o Plano Real”, considerou Landau.