Guerra cria cidades-fantasmas no sul da Ucrânia com bonecos no lugar de soldados

Por Yan Boechat

O sul da Ucrânia foi palco de algumas das batalhas mais violentas da guerra que está completando um ano. Derrotada nessa região, a Rússia bateu em retirada para o outro lado do rio "Dnipro", deixando para trás cidades fantasmas. O  repórter Yan Boechat, do Jornal da Band, visitou a cidade de Kherson para a série “Diário de Guerra, um ano depois”.

Veja a reportagem no vídeo acima

A guerra passou pela região como um desses furacões que deixam apenas ruínas quando tocam o solo. Praticamente nada ficou de pé diante do furor das batalhas que rasgaram essa parte do Sul da Ucrânia em novembro.

As tropas russas controlavam essa região desde fevereiro, até serem empurradas para o outro lado do Rio Dnipro na grande ofensiva ucraniana do outono. Pelas ruas dos vilarejos quase vazios é possível ver o que os soldados russos deixaram para trás.

"Essa aqui é uma das muitas posições que os russos abandonaram aqui na região de Kherson quando estavam em retirada para o outro lado do Rio Dnipro, a destruição aqui nessa região é incrível. Nada ficou de pé aqui, vai demorar muito tempo para essa região ser reconstruída".

Por lá ainda não há água, eletricidade ou aquecimento. Mas pouco a pouco, os mais determinados, ou os mais otimistas, estão tentando reconstruir a vida que a guerra interrompeu. Oleg Operenko viveu seus 35 anos de idade nessa vila que foi arrasada pelas batalhas.

Depois que as tropas se foram, ele voltou. Sua casa foi destruída, seu carro foi bombardeado e seu quintal hoje parece mais um museu de guerra. Ainda assim, ele parece determinado a fazer com que tudo volte a ser como era.

“Está tudo bem, aqui eu me sinto em casa, aqui é meu lugar", disse Oleg. Ele construiu um cômodo, onde agora vive com a mulher, Marina, e o pequeno Kyrillo. "O mais velho foi para outra cidade estudar, não está aqui", comentou Marina. Kyrillo, como todas as crianças da cidade, está sem estudar.

Oleg Pylipenko é o prefeito do distrito que engloba mais de 20 vilas dessa região, quase todas destruídas pela guerra. As escolas, diz ele, foram alvos estratégicos tanto para as forças russas quanto para as forças ucranianas por servirem como bases militares.

"Tudo foi destruído, em cada escola tínhamos um piano, nenhum deles sobreviveu. E os pianos se chamavam Ucrânia", disse o prefeito.

Oleg diz estar tentando criar um fundo para ao menos reconstruir as escolas para que as crianças possam voltar a estudar, mas ele reconhece que não é simples, principalmente quando grandes cidades também estão sendo afetadas pela guerra.

Em uma escola na região de Kherson é possível ter um pouco da ideia da dimensão de toda a destruição dessa parte da Ucrânia. Está tudo destruído aqui, essa escola está em ruínas"

Ao longo de toda essa região ainda é possível ver os restos das batalhas. Em um campo estão centenas de capsulas das bombas disparadas pela artilharia. Está tudo queimado, tudo destruído. Mais a frente, um sinal de que os soldados russos estavam menos equipados do que se acreditava. Na trincheira, criaram bonecos de pano para tentar enganar as tropas ucranianas que avançaram para essa posição.

"Quando voltamos para cá, tudo estava minado”, explicou Victor Sasunovich. “Não podíamos andar por lugar nenhum e vimos essas criaturas. Agora aqui está limpo, vamos continuar nossas vidas."

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