Existe hora de parar? Essa é uma questão levada a séria por muitas pessoas que desejam se aposentar logo. Mas há quem goste de se manter ativo mesmo depois dos 80 e até dos 90 anos.
“Em 60 anos eu também mandei na foto que eu vou encontrar, só quero me divertir. Estou de malas feitas e pronta para partir”.
Com mais de 70 anos, a Margarida realizou o sonho de publicar seus pensamentos.
“Ele não é um livro de poesia mas tem coisas lindas. E não livro de história, mas tem histórias maravilhosas. Mas também não é um livro de receitas, mas as receitas…”, diz Margarida Maria Arcebispo.
Um exemplo para as gerações da família. A filha tem 45 anos, os netos, menos de 10.
“Você vai ver nos livros o idoso está com a mãozinha nas costas, da curvo. Às vezes fala muito alto. Eu percebo com as crianças aqui em casa que elas não têm essa ideia do envelhecimento, porque elas têm contato com a minha mãe”, diz Adriana Arcebispo.
Possibilidades, expectativas, sonhos
“Enquanto tem vida a gente tem que sonhar né”, afirma Margarida.
A educação também pode fazer parte dessa fase. Muitas universidades do país oferecem programas voltados para quem tem mais de 60 anos. Na Universidade de São Paulo (USP), qualquer pessoa dessa idade poder ser aluno, assistir às aulas de vários cursos, além de participar de projetos culturais e esportivos.
De aluna a professora. Aos 93 anos. A dona Neuza tem uma oficina de memórias.
“Desde 2004 eu tenho um trabalho que se chama resgate de memória autobiográfica. Uma vez por semana, por duas horas. Metade deles eu falo sobre o tema do dia. Se o tema do dia é a família que eu recebi. A família de cada um que está lá”, explica Neuza Guerreiro de Carvalho.
Ela mesma guarda todo tipo de memória. São fotos, cartas, recibos de pagamento.
É natural que, conforme o tempo avance, o passado ocupe mais os pensamentos. E o temor pelo fim, também. Principalmente quando não se encontra espaço para falar sobre finitude.
“O medo da morte ele tem espaço no consultório porque a gente escuta a gente escuta, reconhece. Nós somos uma sociedade com bastante medo da morte e bastante distante dessa ideia. A impressão que todos temos é que vamos viver para sempre”, explica a psicologa e pesquisadora Maria Cristina Mariante Guarnier.
Mas será que alguém com o título de "Imortal" da Academia Brasileira de Letras tem medo do fim da vida?
“A gente escreve para não morrer, no fundo é isso. Eu tenho medo é de morrer como escritor, que nunca mais ninguém me leia”, diz Ignácio de Loyola Brandão.
Ignácio de Loyola Brandão tem 87 anos e encara o envelhecimento com bom humor.
“Eu entendi que não tem o que fazer. Se eu não ficar velho é porque eu morri. E alguém pergunta assim como é que você chegou aos 87 anos? Não morrendo. E pretendo viver. E talvez escrever”, finaliza.