Dunas de areia branca esculpidas pelo vento. Lagoas de água doce formadas pela chuva. Os Lençóis Maranhenses são uma paisagem única no planeta. Um paraíso encravado na região Nordeste do país, que conquista visitantes do mundo inteiro.
“É impressionante como nos oásis, nos lugares mais isolados, mais difícil de chegar, tem mais europeu, tem mais gringo do que brasileiro”, diz o guia turístico Gilberto Silva. E muito dos turistas estrangeiros que visitam os Lençóis Maranhenses acabam ficando por lá definitivamente
“Alguns vêm como turistas, ficam apaixonados pelo lugar e muitos ficam morando e nunca mais vão embora!”, diz a comerciante Sara Segra. “Cada um tem o seu destino, o seu futuro... Eu escolhi aqui”, completa Thimotée Planty, dono de uma pousada.
Atins, um povoado de 800 habitantes que pertence ao município de Barreirinhas, no estado brasileiros do Maranhão era uma vila pacata de pescadores há 20 anos. Agora, tudo começou a mudar. Turistas, principalmente da Itália e da França, passaram a comprar terrenos na região.
“Então, eles chegaram e acharam muito bonito e eles compraram essas terras. E eles comparavam por muito dinheiro, né?”, conta a pescadora Maria Porto. Aos poucos, o povoado de Atins foi ganhando ares cosmopolitas. “Você fala português muito pouco aqui em Atins, para falar a verdade. A maior parte você escuta francês! Você vai num restaurante aqui, uma mesa está falando francês, na outra, inglês, japonês...”, relata Valério Monteiro, gerente de pousada.
A maior parte dos estrangeiros que vive em Atins administra algum tipo de negócio no vilarejo. O francês Thimotée ficou hipnotizado com a beleza do Parque Nacional dos Lençóis – e decidiu abrir uma pousada. “É diferente de tudo. Não dá para explicar. É uma obra de arte da natureza ao nível mundial”, diz.
Antes de morar lá, ele trabalhava com comércio de matéria-prima na África, comprando cacau na Costa do Marfim. O vilarejo foi indicado por outros turistas, quando Thimotée viajava a passeio pelo Nordeste brasileiro. “Eu estava viajando e bastante mochileiros falavam: olha, tem um vilarejo bem isolado, bem difícil de acesso, só chega de barco num vilarejo cheio de areia”, relembra.
O isolamento é visto como um dos grandes atrativos de Atins. “A localização é difícil? É. E a gente adora isso. O pessoal fala: ‘Ah, é difícil de chegar lá’. Maravilha, é isso que a gente quer!”, conta Valério. “Faz tempo que eu procurava um lugar afastado da cidade, da civilização, de gente e de me aproximar de um lugar mais de natureza e chegando aqui com o tanto de água salgada, doce, de vento, de areia... A natureza aqui é intensa”, revela Thimotée.
A vida dos estrangeiros em Atins é um constante aprendizado. “Para mim foi uma mudança muito grande para a minha vida. Escolher esse lugar, ficar aqui, e também aprender, não? No dia a dia, com essas coisas que temos nesse lugar”, diz Sara. A equatoriana vivia em Buenos Aires, a capital da Argentina, onde trabalhava como modelo.
Sete anos atrás, ela e o namorado decidiram trocar a cidade grande pelo pequeno povoado no litoral do Brasil. “Eu cheguei em 2014, não tinha internet nem energia. Só ficava monofásica, que é uma energia muito precária, né?”, relembra a comerciante. Hoje, ela é dona de um bar que atende os turistas da região. Escolhas que levaram a equatoriana a conhecer outra paixão em Atins: o kitsurf. “Mudou desde a forma da comida, como eu me alimentava, até o kitesurf que foi a paixão, ainda é a maior paixão que eu tenho”, conta.
“É um esporte que qualquer pessoa pode fazer, não é um esporte físico, é um esporte mais técnico. A única coisa que precisa ter é vento, é vento. Vento e um pouco de água”, explica Pedro Vivas. O argentino dá aulas de kitesurf para os turistas, a maioria para estrangeiros. “Oferecemos aulas em quatro idiomas: espanhol, inglês, francês e português”, relata.
Atins é um lugar que sabe acolher as diferenças e é capaz de fazer todos se sentirem em casa. Entre os estrangeiros e os brasileiros que escolheram Atins para morar, o sentimento é o mesmo: todos vieram para ficar.