A imprensa está entre as novidades que chegaram ao Brasil com a Corte Portuguesa de Dom João Sexto. Na bagagem, também vieram milhares de livros - muitos, verdadeiros tesouros até hoje preservados.
O nome completo de Dom Pedro I tem 18 palavras. Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.
Os nomes tão grandes eram porque a nobreza homenageava a família toda, incluindo os santos, os anjos, arcanjos. Dom João VI, até que tinha um nome enxuto. Nem era tão grande assim: João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael.
Grande mesmo foi a operação de fuga para o Brasil e a quantidade de coisas que ele trouxe na bagagem.
Biblioteca
Quando Dom João saiu de Portugal, para fugir dos ataques de Napoleão Bonaparte, ele teria trazido, além da família, 15 mil pessoas da corte e cerca de 50 mil livros, de todos os tipos. Vieram em várias viagens.
A historiadora Maria Eduarda Marques, diretora executiva da Biblioteca Nacional destaca a importância dos registros. “A Biblioteca Nacional talvez seja a instituição brasileira mais ligada a história da independência do Brasil. Ela fez parte da negociação para independência. A biblioteca foi um dos itens que constou no tratado de paz e amizade com Portugal de 1825 onde compramos este acervo que deu início a Biblioteca Nacional do Brasil”, conta.
Hoje, a Biblioteca Nacional tem nove milhões de livros.
“É considerada a oitava ou nona maior biblioteca do mundo pela Unesco”, ressalta a historiadora.
No Rio de Janeiro, a Marinha do Brasil também guarda relíquias.
Em um setor de obras raras da Biblioteca da Marinha do Brasil abriga uma riqueza que veio em 1808 com a família real.
A Mapoteca - a biblioteca dos mapas, tem documentos que ajudam a contar a história da construção do Brasil independente.
O Ortelius, de 1570, por exemplo, é um dos quatro exemplares no mundo. Abraham Ortelius foi o inventor do primeiro Atlas moderno impresso.
Todo esse conhecimento começou a chegar no Brasil com a família Real.
“Então é muito importante inclusive pela questão educacional, para elevação da sociedade brasileira que era uma sociedade escravocrata, onde a letra, a leitura, o escrever público não era permitido”, conta Maria Eduarda.
Imprensa
No Brasil Colônia, por ordem de Lisboa, não era permitido qualquer tipo de impressão. Mas como a Corte se mudou e precisava se comunicar com os súditos, Dom João VI criou, bem no dia do aniversário dele (13 de maio de 1808) uma tipografia para publicar decretos e livros.
E então nasceram os primeiros jornais da Colônia: a Gazeta do Rio de Janeiro, que chegava para espalhar as decisões da Corte, e que traduzia o que saia em jornais portugueses e ingleses. E havia fofocas da cidade carioca também.
“A Gazeta do Rio de Janeiro era um jornal convencional, com periodicidade, qualidade, variedade de matérias, mas o que ele transmitia eram as ações do governo, praticamente não discutia política”, conta o professor e escritor Antônio Fernando Costela.
E o Correio Braziliense circulava no Rio de Janeiro de forma clandestina.
O gaúcho Hipólito da Costa redigia o jornal em Londres. A intenção do Correio era difundir no Brasil e em Portugal as ideias que circulavam na Europa, além de criticar abertamente pontos da política portuguesa.
“Hipólito era um camarada que tinha uma bagagem de conhecimento bastante variada, então ele escrevia sobre criação de cochonilha para fazer corantes, como ele escrevia sobre os atos que interessavam a vida política”, explica Costela.
Música
A chegada da família real não resultou apenas em mudanças políticas e econômicas. Tem toda uma mudança cultural na sociedade do Rio. E Dom Pedro seguia desenvolvendo suas aptidões artísticas.
“Era versado em música, isso contrapõem um pouco aquela imagem do imperador bonachão, mulherengo, que também é uma construção que tem indícios, mas a gente pode pensar ele também como um estadista, que sai da Independência, funda um Império Brasileiro, vai pra Portugal, faz uma guerra civil com o irmão, deixa a irmã como rainha de Portugal, uma figura muito importante num jogo de xadrez político da América recém independente e dos contextos europeus da monarquia”, conta o historiador Rafael Zamorano, do Museu Histórico Nacional.
Um piano, ou pianola, que pertencia à família imperial, está exposto no museu. As primeiras unidades do modelo também chegaram com a família real portuguesa. Era o começo da "pianolatria brasileira".
Alguns livros didáticos dizem que foi Dom Pedro quem compôs a música do hino da independência e ele teria tocado em um teatro em São Paulo, na noite da Proclamação da Independência.
A historiadora Heloisa Starling esclarece alguns erros desse registro. “Dom Pedro fez a música, compôs a música do Hino da Independência, só que nem 1824. Então a confusão que em geral as pessoas fazem é porque em agosto de 1822 o professor de piano do Dom Pedro, que é o Marcos Portugal, ele vai compor a música do hino constitucional, e a letra é do jornalista Evaristo da Veiga que também tem uma atuação política muito importante em defesa da Independência. Essa é a composição que provavelmente Dom Pedro tocou lá no Sete de Setembro à noite em São Paulo na Casa da Ópera, mas não o que ele fez, o que ele fez ele faz em 24 quando ele jura Constituição só que ele mantém a letra do Evaristo da Veiga, "brava gente brasileira" e talvez o fato da letra ser a mesma tenha gerada a confusão”, explica.