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Mulheres da Independência: Três baianas que tinham em comum a bravura e coragem

Maria Quitéria de Jesus, Joana Angélica e Maria Felipa de Oliveira defenderam o Brasil

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Três mulheres baianas tinham em comum a bravura e a coragem para defender o Brasil. Mais uma reportagem do projeto especial do Jornalismo da Band sobre os 200 anos da Independência conta quem eram Maria Quitéria de Jesus, Joana Angélica e Maria Felipa de Oliveira

Maria Quitéria de Jesus

Roubar a farda do cunhado e ir para guerra escondida, fingindo ser homem. Parece uma história inventada, mas uma mulher brasileira fez isso no início do Século XIX. E muito mais.

Maria Quitéria de Jesus era filha de donos de pequenas terras na Bahia. Contrariando a família e sob a alcunha de soldado Medeiros, se alistou para combater as tropas portuguesas. Era tão habilidosa com as armas que quando descoberta pelos colegas de farda, não foi punida. Ganhou um novo uniforme.

A representação mais conhecida foi pintada por Domenico Failutti, usando uma saia cobrindo as calças. A coragem de Maria Quitéria não foi o suficiente para que ela escapasse das críticas por quebrar os padrões da época.

A historiadora May Del Priore conta que Maria Quitéria foi atacada quando deveria receber honrarias. 

“Primeira mulher que vai participar oficialmente do Exército, é reconhecida pelo Imperador que vai passar à cadete em junho de 1823. Ela ganha esse cargo de cadete e ganha uma medalha importante de cavaleiro da ordem imperial. (...) ela é duramente atacada pelo Rio de Janeiro quando vai receber essas honrarias todas por estar vestida de homem. Isso é muito mal visto pela imprensa”, conta.

Hoje, Maria Quitéria tem seu nome imortalizado como patrono do Exército Brasileiro. 

Joana Angélica

A batalha pela Independência na Bahia só seria vencida em dois de julho de 1823. Mas antes disso, por muito tempo, a violência das tropas portuguesas fez parte do cotidiano de Salvador. Alguns dos combates mais sangrentos aconteceram em fevereiro de 1822, quando mais de duzentas pessoas morreram. Uma delas era Joana Angélica, um outro exemplo feminino de bravura.

 “Tentaram entrar no convento da Lapa, em busca de possíveis rebeldes que estivessem ali escondidos dentro do convento. E abadessa Joana Angélica, ela logicamente protegeu a frente do convento, os portões do convento e não permitiu a entrada desses homens. E como não permitiu a entrada deles ela foi brutalmente assassinada por baionetas”, explica a historiadora Bárbara Saldanha.

“E ela tem uma morte heroica. Ela morre trespassada por uma baioneta portuguesa. É a grande mártir da guerra da Bahia. Matar uma freira era uma coisa tão impensada naquela época (...) os jornais portugueses que retratam a situação no Brasil fazem silencio absoluto sobre a morte de uma freira. Era impensado um soldado português matar uma serva de Deus”, enfatiza May Del Priore.

Maria Felipe de Oliveira

O que dizer então da coragem de uma escrava liberta que enfrenta os portugueses que se aproximam da ilha de Itaparica, na Bahia de todos os santos? Negra e marisqueira, Maria Felipa de Oliveira liderou um grupo de mulheres para enfrentar, armadas apenas de astúcia, os soldados de Portugal.

A historiadora Lilia Schwarcz afirma que há pouquíssimos registros históricos da heroína Maria Felipa. 

“E ela parece que reuniu um grupo de 200 mulheres que atraíram o exército português e combateram o exército com base na cansanção, que é uma planta que gera muita coceira. Ou seja, ela era negra, era escravizada e sumiu das nossas páginas”, conta.  

Representatividade

“Eu acredito que vivemos numa sociedade machista escrita pelos homens feitos de forma sexista está em um conceito bastante patriarcal que expõe estereótipos tradicionais e sub subordinação da mulher”, pontua a historiadora Bárbara Saldanha. 

Contar as histórias dessas mulheres incríveis pode ajudar a mudar o futuro. “A gente fala de machismo estrutural e racismo estrutural porque estruturam a nossa linguagem. Se as crianças começarem a estudar diferente, se tiverem mais líderes mulheres, mulheres independentes, mulheres autônomas, se estudarem mais mulheres negras, e que não sempre vinculadas a situações de subjugação, isso vai fazer com que as mulheres tenham uma representação na sociedade brasileira compatível com sua proporção numérica”, concluí Lilia Schwarcz. 

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