Acreditar na recuperação do centro de São Paulo. Isso tem movido empresários a investir na região. A esperança é reverter a situação de abandono duma área histórica da maior cidade brasileira.
O centro está em crise. Basta uma caminhada rápida pelas ruas centrais da capital paulista para perceber isso.
As esquinas, as marquises, as praças, foram tomadas por famílias que não tiveram outra opção que não a rua para se refugiar da crise. Agora, mais do que nunca, o centro de São Paulo espelha a face mais brutal de um país em permanente crise com seu passado e constante disputa por seu futuro.
“De uma perspectiva da cidade a gente só vai se livrar dessa decadência quando a gente cuidar da desigualdade de renda, quando a gente cuidar da segurança, quando a gente cuidar da alimentação, quando a gente cuidar da educação. Vai continuar a mesma coisa se a gente não resolver um problema de desigualdade de renda, não tem mágica”, afirma o empresário Facundo Guerra.
Facundo Guerra é uma espécie de Midas do centro de São Paulo. Nos últimos 15 anos montou quase três dezenas de negócios que transformaram a cara de regiões icônicas - e degradadas - do centro da cidade.
“A gente tem que entender o centro na sua feiura e na sua beleza, que é um pouco de São Paulo. São Paulo é feia e bela ao mesmo tempo. A gente não vai encontrar São Paulo bela se a gente for procurar simetria, harmonia, arquitetura clássica. A gente vai encontrar esse caos, essa confusão, essa bagunça, e tá na hora da gente entender que a gente feio, mas bonito ao mesmo tempo”, explica o empresário.
Entre os projetos que o empresário aposta agora está um bar que fica no subsolo do Theatro Municipal. Lá, as filas chegam a ter três horas de espera.
Há mais empresários com essa coragem de investir em áreas que despertam mais medo do que curiosidade.
“O centro é plural, além de histórico, além de bonito apesar da degradação, apesar da crise que a gente passa, então pra gente ter um negócio criativo, ter uma casa noturna, ter um restaurante, ter um bar, precisa ser onde todas as pessoas estão, pra gente precisa ser no centro”, diz o empresário Junior Passini.
Junior é um empreendedor de Campinas que decidiu reformar um prédio inteiro no centro de São Paulo. Montou um complexo de entretenimento há quatro anos. Passada a pandemia, vê o sucesso lhe bater as portas.
“Essa rua aqui, a Major Sertório, ela era praticamente inabitada, não tinha nenhum bar, nenhum restaurante, muito menos lugar de criatividade. Depois que a gente chegou abriram outros e outros lugares, cada porta que abre, cada negócio novo é importante até para inspirar os outros”, diz o empresário.
O centro precisa mudar, há poucas dúvidas sobre isso. Precisa de mais cuidado, de mais segurança e, como mostram Facundo e Júnior, precisa também se aceitar como a região central da maior cidade de um país ainda profundamente desigual. A beleza, a pobreza e o caos precisarão aprender a viver juntos por aqui até que tudo, de fato, mude no país.