O funcionário que catalogava os presentes no governo de Jair Bolsonaro disse que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da presidência, queria tratar tudo como propriedade particular do ex-chefe do Executivo.
Marcelo Vieira, ex-chefe do gabinete de documentação histórica do Palácio do Planalto, era o responsável por catalogar os presentes recebidos pela Presidência da República. O advogado dele confirmou que Cid, investigado pela suposta venda ilegal de joias recebidas por sauditas, confundia o público com o privado.
“Realmente, tinha uma dificuldade por parte da Ajudância de Ordens e do governo de compreender o tipo de classificação, porque realmente é muito técnica. Se, hoje, tivesse que reclassificar os presentes, faria-os exatamente da mesma forma”, disse o advogado.
Segundo a regulamentação em vigor, do Tribunal de Contas da União, apenas itens como medalhas personalizadas, bonés, camisetas, gravatas, chinelos e perfumes podem ficar com os governantes.
Vieira era o “guardião” dos presentes presidenciais desde 2017, na gestão de Michel Temer. Oficial da Marinha, deixou o cargo em 1º de janeiro deste ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou dezenas de militares do governo.
Em maio, Vieira foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF), ocasião em que teve o celular apreendido. O servidor afirmou aos investigadores que participou de um telefonema feito por Cid, junto com Bolsonaro, em que houve o pedido para a assinatura de um ofício para a liberação das joias sauditas que entraram irregularmente no país e foram apreendidas no Aeroporto de Guarulhos
Vieira afirmou que explicou a Cid e ao ex-presidente, em ligação telefônica no viva-voz, que o gabinete que chefiava não tem a função de solicitar bens, mas apenas de classificar e registrar os presentes. A PF não descarta convocar o servidor para um novo depoimento.