Jornal da Band

'Espingardas se tornaram armas de paz', diz capitão da Revolução dos Cravos

Revolta militar comandada por capitães de Portugal fartos da guerra colonial livrou o país de longa e sombria ditadura

Fernando Mattar

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Há exatos 50 anos, Portugal se livrava de uma longa e sombria ditadura. No dia 25 de abril de 1974, um golpe de Estado militar, comandado sobretudo por capitãs fartos da guerra colonial, mudou a história do país.

“Era como se Portugal fosse uma panela de pressão, e pronto, que essa pressão teria que sair com ajuda e a ajuda foram dos militares”, conta a historiadora Irene Pimentel. Carlos Beato, capitão naquela época, relembra o momento da revolução:

Então as nossas espingardas transformaram-se em armas da paz - Carlos Beato, capitão de abril.

Até o dia 24 de abril de 1974, Portugal vivia uma ditadura repleta de repressão. A historiadora Irene Pimentel conta que a população vivia insatisfeita, principalmente com as guerras travadas em Angola, Moçambique e Guiné, países que eram colônias portuguesas.

“Se não houvesse a guerra colonial, não teria havido o 25 de abril. As pessoas estavam cansadas, o orçamento geral do Estado, também da ditadura, ia quase todo para a guerra e também para a polícia, política. Então estava tudo farto e a ajuda foi dos militares, que precisamente foram apoio do regime ditatorial”, diz Irene.

Revolução dos Cravos acabou com ditadura em Portugal | Reprodução/Jornal da Band

O trajeto dos militares em meio a revolução acaba se confundindo, curiosamente, com um típico roteiro turístico de Lisboa, capital de Portugal. O ponto de partida é a gigantesca Praça do Comércio, foi ali que tudo começou.

Em uma quinta-feira de abril, passada das seis da manhã, chegando de Santarém, a 80 km de Lisboa, tropas comandadas pelo capitão Salgueiro Maia dominaram com os tanques a Praça do Comércio, que abrigava o coração do governo. A essa altura, outros grupos do chamado MFA — Movimento das Forças Armadas — já tinham ocupado pontos estratégicos da capital e de outros locais do país.

Carlos Beato foi um dos famosos ‘capitães de abril’. Ele esteve ao lado de Salgueiro Maia durante toda aquela quinta-feira. “Salgueiro Maia deu ordens para que meu grupo de combate, o sexto pelotão, fizesse rajadas sobre a fachada do Quartel do Carmo, para ver se obtínhamos a rendição do governo, que estava lá dentro. Durante meia hora fizemos fogo para a fachada e, finalmente, aquelas portas abriram-se em abril”, conta.

Capitão Carlos Beato na Revolução dos Cravos | Reprodução/Jornal da Band

As portas se abriram para sair o até então todo-poderoso presidente do conselho de ministros, Marcelo Caetano, sucessor de Antonio Salazar. Após resistir por algumas horas com o quartel sitiado, Caetano acabou se entregando ao general Antonio Spínola. Ele saiu do quartel em um carro-forte, para não ser linchado e passou os últimos anos de vida exilado, no Brasil.

Voltou a nascer o horizonte da liberdade, da democracia, da justiça social, de oportunidades, de alegria de viver e acabou também o cemitério que era para a nossa juventude, a frente militar nas antigas colônias - Carlos Beato.

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