Os Estados Unidos gastaram mais de R$ 4 trilhões ( US$ 750 bilhões ) nos últimos cinco anos só com os prejuízos causados pelos desastres climáticos e ambientais no país. Metade do valor PIB brasileiro de um ano — R$ 7,5 trilhões (2020) de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para tentar diminuir a ocorrência desses eventos, o governo americano criou um fundo de investimento chamado 'Build Back Better’ ou ‘Reconstruir Melhor'. No entanto, o projeto está mais focado em implantar fontes de energias renováveis no país do que em construções resilientes e sistemas de análise de risco.
Julia Marisa Sekula, autora do livro ‘Brasil: Paraíso Restaurável’ (Estação Brasil, 2021) e pesquisadora na Universidade Stanford, diz que é importante pensar alternativas. Contudo, o Brasil tem respostas dentro do próprio território.
“Eu acredito que os fundos são uma boa alternativa para transições energéticas e precaver esses desastres. Mas, se o ponto for esse, o Brasil já domina esse espaço. O problema aqui é a dependência hídrica que afeta diversos setores como o agronegócio. Cuidar da água por suas diversas finalidades é um diferencial do Brasil”.
Preocupação Global, soluções locais
De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial sobre os principais riscos para a próxima década no mundo, metade são relacionados ao clima. Secas prolongadas, chuvas intensas e incêndios continuarão acontecendo com intensidade.
As fortes chuvas causaram dezenas de desalojados e perdas econômicas que giram em torno dos R$ 180 bilhões só nos últimos 20 anos no Brasil, de acordo com dados do World Resources Institute.
Uma das alternativas para ajudar a diminuir os riscos e esses impactos é a Lei de Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, de 2012. Ela obriga todas as cidades brasileiras a elaborarem "cartas geotécnicas" e servem para investigar terrenos em graus de risco e planejar soluções para evitar novos desastres. A lei entrou em vigor após os desastres na serra carioca de 2011 que deixaram 918 mortos e 99 desaparecidos.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo é um dos principais centros de estudo das cartas geotécnicas e tem trabalhos relevantes, especialmente na baixada santista.
De acordo com o pesquisador do IPT, Omar Yazbek Bitar, ela tem o trabalho de sintetizar o conhecimento sobre as características do meio físico no território do município.
“Elas servem para indicar quais territórios são mais ou menos favoráveis a processos como deslizamentos. Com alta ou baixa suscetibilidade e orientar as políticas públicas a terem cuidados especiais com relação a isso”.
Ele ainda coloca que uma das maiores preocupações é a falta de equipe nas cidades.
“Mesmo com a lei em vigor, muitos municípios não contam com equipes especializadas para prever os riscos. O estado de São Paulo, por exemplo, metade dos municípios não tem equipe especializada. Isso diminui as chances de prever desastres”, aponta o pesquisador.
Em relação com situações onde há habitações, mas que são de risco, para ele é fundamental saber evitar esses danos. “Tem que se elaborar planos de gestão de riscos, setorizar as áreas de maior ou menor risco e adotar medidas de contenção adequadas para evitar maiores desastres”, conta Omar.